sábado, 3 de março de 2012

Calma

Tudo está em calma
Não há dor, fome ou tristeza
Nem maldade, inveja ou preocupação

O vento passa pelo meu rosto
É como a paz
Sabe quando aquele dedo se acarinha pelo rosto?
É como a paz

Calma, calma
Sempre que penso em ti
Minha vida se faz calma

Sensação tranquila
Que passa pelas minhas vontades
É calma
Que me guia com bondade

Calma ao ver o sol
Ao escutar o mar
Ao sentir teu olhar
Ao nos ver dançar
Ao caminhar na praia
Ao dividir
Ao multiplicar

Calma é estar em si e não em outro lugar
Calma é um pedaço de todas as coisas
Que te deixam calma

Calma,
Não é preciso parar para sentir calma
É preciso ter calma para realmente se desligar

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Metamorfose

Durante o dia, acordei diferente
Era claro e me olhava tanta gente
Que ao me mexer para frente
Escorreguei e cai de repente

Meus pés estavam menores
Minhas mãos mais delicadas
Minhas idéias intricadas
Meus desejos melhores

E saber que a mudança não tem algozes
Faz-me ficar mais dona de mim

A aparência é uma mentira da sociedade
E mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira

Sr. Kafka, grato pela sua literatura. Uma pena não ter sido reconhecido vivo.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Deixe as pedras rolarem

Quando eu corri o mundo
Me apedrejaram e gritaram
Que o demônio estava comigo

Minhas drogas eram de outros
E a violência era só uma forma de expressão

Quando eu mandei no mundo
O mundo se virou contra mim
E mandou por anos
Até que todas as pedras parassem de rolar

Às vezes você me pergunta
Porque eu não deixei as pedras rolarem?
Eu respondo:
Elas estão rolando dentro de mim.

Quando eu corri no mundo
A guerra era uma forma de arte
Amar o próximo
Não é amar apenas o próximo que te ama

Faça o bem
Sem ver a quem
E saiba que o que vem
É gentileza

Às vezes você me pergunta
Porque é que eu não deixei as pedras rolarem
Eu respondo:
Você empurrou as pedras sobre mim,
Ou não?

Let's rock'in roll.

Amado

Quando eu vi os dias passarem
Pela janela o vento soprava novo
E o verde das folhas caia
Enquanto Roma estava fria

Os olhos são cúmplices de que algo se perdeu
O mundo cresce
E você se perdeu

Você me perdeu e não sabe porquê
Olha para os lados e não nos vê
Por quê?

Meu amigo não é deus
Por que deus não existe
Deus fica numa rocha
Longe de onde a gente vive

Minha amiga não é minha
Não porque esquece de mim
Mas porque esquece de si
Hoje, é só um pedaço de minha vida

Quantas vezes me fui amado
E você quis me mostrar como viver
Entretanto, no seu saber,
A vida corria mais rápido que você

Entenda, tive que abandonar
Para não me abandonar
Só então poderei retornar
Com meu sorriso pintado pela fantasia

Ou não

Eu queria ter uns anos 60
Para gritar contra quem faz
Destruir muros
Construir idéias
Abraçar amigos
E desconhecer os mundos

Hoje eu conheço os mundos
E só posso gritar contra quem fez
Os mundos cresceram por sobre mim
Meu som é abafado
Pelo dinheiro de quem fez

Hoje, sou um escravo de ninguém
Sou metal contra seus escudos
Meus golpes são fracos
E minha jornada é dura

Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Anos 60, 60 anos depois
As maiores potências do mundo
São multiculturais
Pois são várias nações unificadas pelo poder

Queria querer soprar setecentas mil vezes
Por mais de zil anos
Toda incompetência e intolerância
Para longe

Enquanto metais brasileiros
Navegam em navios ingleses
Para indústrias na China
Com tecnologia alemã
Para vender nos Estados Unidos

Eu meço minha força
Vejo os mundos e digo:
O mundo é maior do que eu.
Ou não.


Um rap-folk de origem árabe, cantado para eslavos nas terras de australianos com guitarras alemãs e tambores ruandeses.
Nós somos uns boçais.


É proibido proibir

É proibido proibir
Disse o garoto com uma bandeira na mão
Enquanto esperava um líder
Para erguer a sua paixão

Seus símbolos são mais importantes
Que os amigos que tem por perto
E ter um milhão de amigos
É viver na solidão

A luta é tão dual quanto seu pensamento
E estar de um lado
É odiar o outro
Enquanto todos querem a mesma paz

Enquanto o homem não estiver em paz consigo
Só verá guerra
E a paz será uma bandeira na lua

Conquistar a terra, o céu e o mar
É trinfar com uma riqueza inventada
Enquanto seus próprios valores definham

Aquele garoto com uma bandeira na mão
Deve estar pensando:
Não somos mais os mesmos
Mas vivemos como nossos pais

Línguas

Ainda que eu falasse a língua dos homens
Minhas palavras mudas
Seriam inúmeras
E o som machucaria

Ainda que eu falasse a língua dos anjos
Minhas palavras-músicas
Seriam númeras
E um canto soaria

Ainda que eu falasse a língua dos outros
Sem minha língua
Eu nada veria

Ainda que eu falasse a minha língua
Suas palavras lúcidas
Seriam loucas
E eu nada entenderia

Mesmo se eu falasse a minha língua
E cantasse com os homens
Visse os outros
E entendesse os anjos
Sem amor, eu apenas me machucaria

Aos diversos gênios que tem alimentado minhas vontades.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O mundo é pequeno

Quando vejo seu sorriso
Me perco em sentimentos
Abro um sorriso e rio
Olhares são meus documentos

Queria sair daqui
E sumir em você
Libertar o pássaro
Que é o meu coração

E quando te vejo partindo
É como se eu deixasse de enxergar
É como se eu deixasse de chegar

Fico como um avião sem aeroporto
Que quando olha pra baixo
Só vê uma imensidão de infinidades

Acho que eu só queria dizer bom dia, né, amore?

domingo, 18 de setembro de 2011

Menos do mesmo

S

Meu coração bate
Bem mais forte em
Você que não manda em nada

Me faz ficar mais morte
até arrepio na gente
Água correr por teus olhos

Na realidade, quero tua
Boca longe de qualquer sorte

Antes que você me aqueça
Para cada vontade que me vira
Machuco, acerto de ponta
Mando pela minha mão, não cabeça

Cada estalo me faz
Te deixar de gato
Para que eu te tire alma e sapato

Cada gemido teu me deixa
Extasiado, corre de quatro
Que este é o último ato

Me enche com tua vida
Te enlouqueço de amor!

M

Meu coração bate
Bem mais forte do que
Você está tentando fazer

Me faz ficar mais forte
até arrepio na mente
Água escorrendo por meus olhos

Na verdade, tua
Boca é um pedaço do inferno

Então vem e me aqueça
Pra cada vontade, me vira
Me jogo de ponta
Que não manda nada minha cabeça

Cada coisa que me faz
Me faz te chamar de meu gato
Enquanto eu lambo teu pé e sapato

Essa vontade não me deixa
Porque as paredes são de quatro
E me impedem cada ato

Me enche com semente da vida
Me maltrata de amor!

Um poema duplo.
Onde está Rita Lee? Onde está Rihanna?
Onde estão Leo e Bel?

sábado, 10 de setembro de 2011

O poeta morreu

A noite existe apenas na cabeça da gente. Podes sair o quanto quiseres para a rua. O problema começa quando queres sair de ti. O escuro é a mais fácil fantasia que se pode vestir, nele tudo está escondido. O que você é continua existindo apenas num canto que ninguém vê.

Quando queres só a luz e, procurando, encontra apenas solidão? E quando o mundo pensa saber quem és, estando tudo escuro? Quando aparece a luz e te cega, te faz ficar tonto, desnorteado, a ponto de não saber mais onde estás? E tentando te olhar no espelho, apenas vês o reflexo de algo que tu nunca imaginaste ser, que nunca foi o que tu quiseste ser?

O quadro na parede parece algo próximo. Aquele sorriso poderia ser seu, e os seus olhos também. A pessoa no quadro é um retrato do que já foste. O que mudou não foi o retrato, foi o pintor.

O poeta não morreu. Só está escondido no escuro tentando ver seu reflexo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Goste

Gosto de ver o teu sorriso
Envaidecido com os meus olhos
Mostrando e gostando
No canto da boca do teu riso

Deliciando durmo
Quando vês, sumo
E o teu gosto,
No meu sonho, ganho

Olho, te amo,
Te vejo, te digo,
Me penso e me grito

Goste ou não goste
Gosto
E sou feliz assim

Naturalmente.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Insônia de você

Aquela noite parecia dia
Teus olhos irradiavam desejos
O calor fazia o inverno esquecer
E eu queria deixar de lembrar que já ia

Parecia que não te conhecia
Mas sabia que não tinha volta
Como lidar com essa emoção nova?
Bom que a gente se reencontraria

Esta sintonia me devora
Eu queria pôr a mesa
Só pra você comer

Agora, passo noites verdadeiras
De noite na cama, pensando
Morrendo de vontade de você

Obrigado, Caê.
Dedicado a uma nova emoção! Quem fez, vai entender. :D

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Outro conto

Não era um
Não era duas
Não era confusão
Não era mais mentira

Prático e Exagerado
Carinhoso (Tímido)
Inteligente - Racional
Passivo, Atuante
Político Ingênuo
assim ele era
jogado ao Léu

Emocional e Explosiva
Ativa - Conduzida
Prática (Carnal)
Inconstante, Envolvente
Artista Influente
assim ela era
ao seu Bel prazer

não eram dois
eram Um

Diziam os Titãs: "O que não é o que não pode ser, que não é?". Eu digo que é.
Dica: Observem as maiúsculas.

sábado, 16 de abril de 2011

Arrepio

Eram onze horas, já se aproximava o horário de almoço. Desde o início da manhã - não havia ainda tomado café -, eu tentava resolver um problema, sem sucesso. Meu trabalho sempre me foi satisfatório e aquele problema me incomodava. Não faz sentido, eu dizia, continuando a procurar cabelo em ovo.

Entretanto, minha cabeça girava em torno de dois problemas, que se entrelaçavam e me rompiam mutuamente. Eu estava apaixonada, era verdade. Aliás, era tanto uma novidade quanto a forma como ele lidava comigo. Ele estava diferente, comentava minhas mudanças para mim e para os outros com elogios discretos. Isso me confundia, de certa forma, talvez ele sempre fosse assim e apenas agora o visse com outros olhos.

Então, tive a impressão de que algo iria acontecer. Todos combinavam um almoço fora, certos da presença de todos. Eu tinha outros planos, porque a ânsia de resolver meu problema era grande. O relatório estava pronto, mas em algum ponto desandava e eu não conseguia obter meu resultado, que era óbvio, mas devia ser demonstrado. Ele deliberadamente não se pronunciava sobre o almoço, até que o convidaram objetivamente. No que ele recusou, insistiram pedantemente - diziam que ele não se misturava - pela sua presença, no que ele comentou brevemente sua insatisfação com o lugar escolhido. Eu também havia rejeitado o convite, pois devia terminar o relatório o quanto antes possível, como se fossem informações desconhecidas de meus superiores.

Todos já haviam saído para o almoço e chegava o meio-dia quando consegui terminar meu relatório. Aliviada, imprimi e levei à minha chefe, que já havia saído para almoçar. Este formato de hierarquia sempre me pareceu estúpido, ainda mais quando vai além de ser ineficaz e prejudica a vida dos subordinados. Entretanto, sabia insconscientemente, desde quando acordara, que seria um bom dia.

Quando voltava à sala, meu colega estava se ajeitando para sair. Eu comentei contente de ter resolvido meu problema, mas demonstrando incômodo pela falta de consideração da chefia. Eu senti no olhar dele a vontade de me retribuir, quando me convidou para acompanhá-lo durante o almoço. Estou livre, respondi, como um jeito de dizer que não tinha outros planos, vamos, continuei. Ele então mostrou uma face enigmática, enquanto seu corpo se levantava e seu braço cruzava minhas costas repousando no meu ombro, me dirigindo em direção à saída. Ele se mostrava imponente, era mais alto e muito mais forte do que eu. Estava protegida, acolhida, tão próxima dele, cada vez mais sentimental.

Fomos assim até seu carro. Ele entrou e por dentro abriu a porta para mim. Logo nos ajeitamos, ligou o carro e o rádio e partimos. Começamos a andar por ruas desconhecidas quando começou a tocar uma música linda. Fiquei arrepiada, esta música me deixa sempre emocionada. Ele notou, constrangido, e segurou minha mão muito sem jeito. Meus olhos deixaram de ficar embargados e começaram a chorar. Fiquei envergonhada e queria muito expor meus sentimentos e por isso chorava mais, pois estava brigando comigo mesma.

Ele então desligou o rádio e sorriu. Naquele momento, só queria que ele soubesse como o quero tanto. Chegamos no local. Ele realmente tem bom gosto e fez muito sentido sua escolha, além de demonstrar o quanto era seguro de si. O local era espaçoso, confortável, organizado e bem decorado, tive uma ótima impressão de lá. Sentamos à mesa e logo fomos nos servir. O buffet era completo e tinha os pratos que adoro.

Voltamos à mesa e à medida que comíamos, começamos a conversar. Divergíamos sobre assuntos aleatórios, enquanto ele demonstrava sua insatisfação, acredito que fosse sua vontade falar sobre a situação que ocorrera no carro. Assim, puxei assunto sobre a música que havia iniciado tudo. Ele dizia ter se assustado, com uma expressão enternecida, no que me expliquei dizendo que aquela música era muito bonita e que me emocionava fácil. Pausamos brevemente a conversa, até que ele, baixinho, com uma insegurança nítida em sua voz, fala exatamente assim:

- Tu não tava chorando até eu tocar em ti.

Tive a impressão de que ele se arrependera disso e fiquei impactada. Ele havia notado como ele fazia diferença para mim. Sorri acoada, tentando disfarçar o medo e lhe respondi um simples "é verdade". Tinha vontade de contar para ele, de gritar para todo mundo o que me faria bem, porém fiquei apenas com o queixo apoiado sobre as mãos entrelaçadas como uma cama suspensa por pés que eram meus cotovelos e fiquei em transe olhando nos seus olhos. Na cultura oriental, diz-se que os olhos são a janela da alma.

Acredito que ele entendera a mensagem. Voltamos muito mais soltos, enquanto ele me contava de algumas particularidades íntimas. Trabalhamos a tarde inteira numa rotina comum. Eu estava dispersa nos meus pensamentos, nas minhas vontades. Era fim do expediente e liguei o rádio. A música estava tocando novamente e tornei a ficar sentimental.

Estávamos todos de saída, a sala sempre é fechada no mesmo horário. Ele me acompanhou até a saída. Ele foi comigo até a parada de ônibus, todos se despediram e ficamos a sós. Timidamente segurou meus cabelos e me perguntou ao pé do ouvido se tinha algum programa para a próxima sexta após o serviço. Eu fiquei arrepiada e balbuciei que ainda não tinha qualquer plano. Ele, num tom sedutor, retrucou pedindo que eu não marcasse nada. Eu o olhei, desconstruída, aceitando seu convite implícito com uma piscadela.

Meu ônibus chegou, nos despedimos afetuosamente. Subi no ônibus, paguei minha passagem e sentei na janela. Notei que ele ainda me olhava, mas petrificada mirei apenas a frente do ônibus. O sinal abriu e logo estava em movimento. Olhei pra trás e vi seu olhar. Retribui com um um leve aceno com a cabeça. Estava novamente arrepiada, sem acreditar no que havia acontecido. Estava enebriada, sem saber o que estava por vir. Outro problema estava resolvido, mesmo que, repetidamente hoje, o resultado ainda não tivesse sido apreciado, desta vez isto não era incômodo, era reconfortante.

Obrigado, Coldplay.

domingo, 10 de abril de 2011

Quando fui minha

Mudando de ares, desta vez, um pequeno conto.

Quando fui minha

Acordara, distraída por uma música, de um sono profundo. A luz do sol espantava minha preguiça. Sentia-me nova, saciada e feliz. Levantei e olhei em volta, nada me parecia diferente, exceto eu. Mas por que minha cama está assim? Alguém esteve aqui que não fosse eu? As perguntas me embaralhavam a cabeça enquanto escutei barulhos vindos da cozinha. Minha atenção dispersa a música suave que tocava dentro de mim, porque agora estava focada nesta nova sensação.

Algo está acontecendo, o que fiz? De alguma forma, tudo mudou. Eu estou sozinha em mim mesma, mas há alguém junto comigo nesta casa. Junto minhas roupas do chão - eu nunca as jogo no chão - e me ajeito tranquilamente, afinal, não deve ser nada de perigoso. Aliás, o que fiz ontem? E só agora essa pergunta me aparecesse. Continuo calma, sempre confiei em mim, que nada de tão severo devo ter feito.

- Tá acordada? Da cozinha, surge a voz de um homem, num tom ligeiramente gentil.

Quem será este cara? Pergunto a mim mesma sem resposta. Era uma voz bastante agradável, é verdade. Era forte, clara e arranhada, assim como ele deveria ser. Quem será? Quem será? Fico sem resposta para mim e para ele. Talvez um minuto tenha se passado e eu sentada na beira da cama, com as roupas no colo e com uma ótima sensação de completude, fico a pensar em tantas qualidades para ele, ao mesmo tempo em que a janela aberta me chama a atenção para o lindo dia que se abre lá fora.

- Oi, linda, tá com fome? Pergunta ele com uma intimidade interessante.

Continuava sem respostas. Ele havia aparecido à porta do quarto, inclinado, só podia observar sua face. Seus traços retos, olhar fixo, lábios pálidos e uma expressão tão convidativa. Minha posição se desfez, e respondi, como se tivesse um reflexo retardado pela sua beleza, que sim, estava com fome. Ele abriu um sorriso e voltou à cozinha. Seus passos eram marcantes e ouvi cada um deles ecoar no corredor.

Quem era aquele lindo homem? Nem me importava mais o que estava fazendo em minha casa, só me importava quanto tempo ainda ficaria. Ele assoviava a música que há instantes me despertara. Não era apenas uma sensação na minha cabeça, vinha, feliz, da cozinha. Isto me deixava mais completa, não era mais um devaneio, não era um sonho, era real.

Vestida apenas com a roupa de baixo - lembro que ele já conhecia minha intimidade - me levanto e observo o dia. Tudo continuava lindo, a luz do sol me aquece e a árvore à frente ri ao sabor do vento. Passam se vários minutos e vou relembrando de cada momento do dia, e da noite, anterior. Engraçado como passam diversas cenas não importantes. Tudo tão corriqueiro que eu devia me sentir normal hoje, e era isso que me era estranho. Cessa a música e o som das folhas soa mais forte. Eu estava contente, feliz, aberta e viva.

A mão dele me toca nas costas, eu me viro rapidamente, surpresa por não ter notado a entrada dele no quarto. Foi como ele havia entrado em minha vida, tudo tão normal, tudo tão bom. Ele, então, sussura ao pé do ouvido: deita, o café está pronto. Esboçando um meigo sorriso, eu ligeiramente me sento, reclinada, apoiada por travesseiros, numa posição entre o deitado e o sentado.

Assim, ele, mecanicamente, eleva a bandeja que estava sobre a cômoda e me serve, ao colo, o café-da-manhã que havia preparado. Ele me servira uma xícara de café com leite e outra de café, duas torradas abertas pouco recheadas e duas frutas. Tive a impressão de que o café não era feito só pra mim, e logo após eu erguer a xícara de café com leite, ele completamente deitado de lado, apenas de cuecas, com a cabeça apoiada na mão fechada e cotovelo apoiado na cama, formando um triângulo harmonioso, destacando o volume do seu antebraço, ergue a taça de café. Enquanto eu estava levando a xícara à boca, parei quando ela tocou meus lábios. Ele estava com um sorriso tão atraente, tão lindo, tão charmoso, que uma pequena vontade me parou os movimentos e tomou conta de todos os meus pensamentos.

Brigando comigo mesma para não me entregar desta forma, desviei rapidamente o olhar daquela face, percorrendo todo o seu corpo - era como em antigas estátuas renascentistas em todas as suas verdades, definições e nuances - passando pelas minhas pernas - meu senso de sedução alertou fortemente que queria escondê-las, numa vontade de que fossem redescobertas e logo as tapo com o lençol habilidosamente com os pés - e passo a olhar o espelho que fica de fronte à cama. Que cena mágica! Eu o vi me devorar com seus olhos castanhos e o cabelo ainda desalinhado. Ele comia uma das torradas, enquanto eu peguei uma das frutas e olhei para ele. Mantivemos os olhos fixos um no outro, como que conversando o que nunca havia sido dito e que já sabíamos. A única coisa que intervia no nosso silêncio era ainda o barulho do vento nas árvores.

Enquanto eu saboreava a situação - restava em mim também o sabor da noite anterior - ele, num interesse claro, pergunta:

- Quantas vezes ainda vou poder ver seu lindo sorriso? Num lisonjeio que me deixou mole e derretida, fiquei entregue. Ele me fisgou e sua mão se moveu rapidamente largando a torrada, enquanto a outra destapava as pernas que eu recém havia coberto.

Terminamos o café-da-manhã tão depressa quanto no unimos novamente. A continuação foi de um carinho tão grande, de uma suavidade tão imponente, de uma gentileza tão determinada que eu berrei sons ininteligíveis para qualquer estranho a nós, que sabíamos o quanto um estava agradando ao outro.

Ele foi para o banheiro, ligando logo o chuveiro. Só então me dei conta de que já passava das dez horas da manhã. Por mais rápido que ele tenha se arrumado, foi grande o tempo para mim. Continuava sorvendo aquela situação, me deliciando com cada momento, com a certeza de me fazia muito bem gostar de mim, sabendo que assim podia gostar dos outros.

Ele saiu do banheiro pronto, de uma maneira impecável, com um porte alinhado e uma expressão de confiança. Talvez para que eu confiasse nele, entretanto uma segurança se traduzia nas suas palavras, às quais eu estava totalmente alheia, em negação por todo o tempo em que ele falava. Ele demonstrava confiar em si mesmo, como se tudo em volta fosse uma escolha sua. Então, entendi porque tudo estava diferente.

Sorrateiramente, deslizei e peguei a chave da porta. Ele me abraçou com uma intimidade, com tanto carinho, que eu transbordava e retribuía seu afeto. A compaixão que fluía entre nós dois era tão corrente que poderia quebrar um coração de pedra. Nos despedimos sabendo que algo de um no outro restara guardado.

Só agora lembro que ele dizia que queria ir embora, e percebo que ele estava certo em si, porque ele também havia escolhido aquilo tudo. Sentia me completa em mim mesma. Havia sido minha e só assim havia sido sua.

De que serve a arte se ninguém puder apreciá-la?

sábado, 29 de janeiro de 2011

Não sei se sou eu ou se é ela

Não sei se sou eu ou se é ela
Que quando passa sorri
E o sorriso acompanha o vento
O vento acompanha a palavra
A palavra acompanha a boca
E a boca apenas arranha

Não se sou eu ou se é ela
Que contagia a todos com alegria
E na alegria, piadas verdes
Outros pensamentos
Novos sonhos
Realidades novas

Não sei se é ela ou se sou eu
Que brinca com a superfície da máscara
E sopra num canto lá do fundo
Onde nunca se viu no mundo
Tamanha bondade no coração

Pela última vez
Não sei se sou ela ou se sou eu
Que quando olha no espelho
Parado, se pergunta
Será que sou ela ou será que ela sou eu?

Obrigado.

Que te quero bem

Hoje eu vi o sol do meu dia nascer
Enquanto rodopiava, o mundo girava
E ria, falava e te olhava
O dia passava e fui descansar

Eu despertei e te vi tão doce
E te acordei
Pra te dizer
Que te quero bem

Depois fui trabalhar e esquecer
Que pensavas em mim o dia inteiro
Tão logo almoçava tua comida
Chorava, ansioso pra te lembrar

Te ligava tão apressado
E te emocionava, porque era só
Pra te dizer
Que te quero bem

Corria pra estudar, pra nossa vida crescer
Estudava, lia, exercitava
Mas o que eu mais queria
Era melhor te conhecer

E troteava à casa
Gritava do portão
Pra todo mundo saber
Que te quero bem

Obrigado, Kaka, minha inspiração!

domingo, 26 de setembro de 2010

Vento negro

Aqueles árabes
Com seus olhos de águia
Brilhavam no horizonte
A procura de ouro

Aqueles brancos
Com suas espadas de fogo
Que vinham de longe
Querendo-me o sangue

Vento negro
Sopra nos meus ouvidos
Conta tudo o que vai acontecer

Aquele povo amerelo
De sorriso singelo
Que vive como formiga
Trabalhando pra construir vida

Aquele povo negro
De força estupenda
Rico por natureza
Querendo vencer

Vento negro
Torna o mundo colorido
Que eu quero viver

Aquele povo mestiço
De rosto sempre alegre
Mescla todos os sentidos
Faz da arte, modo de viver

Vento Negro
Dança comigo
Que eu quero esquecer

Onde estão?

Olho pros lados
Mas só vejo a luz do sol
Tento correr, dou voltas, erro, me esborracho
E continuo sozinho

Em cada momento aparece um
Que se vai quando passa oportunidade
Quando é pra sempre?
Onde está a lealdade?
Onde está a vontade de se conhecer?
E de viver junto?
De compartilhar, de trabalhar, de saber?
De escutar, falar, dançar e pular?

Onde estão aqueles passeios?
Onde estão os amigos?
Onde estão?

sábado, 24 de julho de 2010

Não foi

Nasceu, cresceu, viveu
Hoje, não pode mais
Quer correr, Romeu?
Não, não há paz

E como todos, continua
Te vê na rua
E tu continuas desconhecido
Também não deves ter existido

Passa a folha, passa o tempo, passa e nada
Como podes não ver?
E não posso dizer que estás errada
Noto que quanto mais tempo passo vivo
Mais me aproximo da morte

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Nem todo reluz

O que não existe por existir
Existe por não existir
O que vive sem sentir
Sente que vive
O que ama sem amar
É o que mama sem nanar

Quando a luz tocar
A luz vai tocar
e quando o saber nascer
a vergonha vai morrer

O que não é, não é
O que é, pode não ser, mas ainda é
O prato que não é comido
é comida que o mendigo
mendigava sofrido
comigo

Por isso que te digo

Quando a luz tocar
ah, ela vai tocar
toda face vai se iluminar
e as vozes vão falar

Enquanto isso
Apenas grunhidos
Vindos do bichos
São os vícios

sábado, 1 de maio de 2010

Verde

Verde é natureza
Verde é amarelo
Verde é paraíso
Verde é vida

Verde não é só beleza
Verde não é singelo
Verde não é risco
Verde não é outra briga

Verde, a cor da minha cidade
Verde, em qualquer cartaz:
Ao verde, a minha vida

Verde, que felicidade
Verde é encontrar a paz
Ao ver-te, Verde

Que figura de linguagem bem difícil de trabalhar.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Escolha

No escuro, a sombra de todo mundo é igual
A ignorância não revela a diferença entre o bem e o mal
Distantes, quem é a beleza e a monstruosidade?
No escuro, nenhuma vida é verdade

No horizonte, o que separa o mar do céu?
As crianças nascem sem saber o que é verdade
A noiva, só depois de prometer a vida pode tirar o véu
Olhando para o horizonte, só o escravo sabe onde não liberdade

Se há caminhos na vida, por que não podemos escolhê-los todos?
A luz só pode cegar quem já pode ver
Medo dela é medo de saber quem somos

O limite do homem é o que ele consegue fazer
E a beleza da criança e a inocência da menina
São impulso para que siga a vida

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Agora meus olhos são pedra
E não se movem para fora de tua direção
Por mais que eu queira fechá-los
Não consigo movê-los

Se a natureza destrói a pedra
Dentro de mim tu estás
E com lágrimas tento te expulsar
Sem sucesso, eu me debato

À marretadas, tento silenciar meus sentimentos
Quanto mais me firo
Mais te encontro em mim mesmo

É uma tristeza pensar-te tão longe
E um bem-estar sentir-te tão perto
E assim, afasto-me de mim

Recaída. Eu sou um bobo mesmo.

domingo, 15 de novembro de 2009

Amigos são anjos que nascem
Compartilham e convivem
Vêm e voltam
Sorriem e abraçam

Não há limites para a amizade
Não há fingimentos com fraternidade
Não há erros na maternidade
Não há mistérios na irmandade

Amigo é quem te conhece
Te consola e te ajuda
Quem divide alegria e paz

Amigo é lealdade
É fortaleza
É divino

Obrigado. :D

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Paixão em prosa

A verdade tem um fundo de maldade. Tudo o que se fala ou sente, parece ser sensivelmente explicado pela biologia. É mentira! Supor que apenas a química das células possa determinar a inteligência é uma besteira. Assim fosse, seríamos mero resultado de um acaso químico sem autodeterminação.

Agora, sinta estas palavras! Cada letra tem um significado, e as letras formando palavras, e as palavras te dizendo que tu estás aí, vivo, lendo isto! Supor que vitaminas, hormônios e ligações químicas possam explicar o a paixão, seria como viver a vida de uma pedra.

Agora, se a cada vez que teu coração pulsa mais forte, tuas idéias ficam bobas a ponto de teus amigos já rirem de ti, então é porque o coração está falando mais alto. Ah, se a beleza inexplicável dela fosse tão clara aos outros. E não é. Entendo casa passo desse abismo, sinto cada passo dessa caminhada de olhos fechado contra convenções sociais, contra outras pessoas, apenas para satisfazer o coração. Ah, a beleza da paixão é mais inebriante do que a beleza da eterna Helena.

Ah, se se contasse todo calafrio, se se perseguisse o ritmo do coração pulsando. A admiração até pode estar em tudo isto, mas o que importa é o súbito desejo de sentir-se bem, e por isso se sentir mal, e se sentir bem em ciclos aleatórios. Ah, a beleza da paixão.

Um pequeno recado para um amigo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Produção semanal

Os incomodados que sofram

Dor é outro na tua boca
Quando eu venho te beijar
E o teu cheiro não é mais o meu
E a derrota nos mantém acordados

Morte e abutres
Amor e nós
Somos o nada em qualquer lugar

Vermes saem dos teus ouvidos
O teu coração está na lama, imundo
Pisoteado como indigente em vala comum

Quem nasce morre
É matéria de alento a outro ser
Merda é adubo
Onde o insignificante vai crescer

Só pra incomodar mesmo.

Liberdade - Fim, início e meio

Os olhos tocam o mar
E a felicidade é o fim
O caminho é o luar
A beleza, flor de jasmim

A mentira é uma pedra
O mar destrói o rochedo
O caminho é o mar que abre
O início sou eu quem anseio

Liberdade é um pássaro voando
Sem se chocar com outro
Mesmo quando o errado é ele mesmo

A flor desperta
É um mundo de sentimentos
Enquanto o pássaro caça
O sol a admira sem receio

A liberdade é o homem em paz
É o lugar onde devaneio
A liberdade é o homem quem mata
A liberdade é o caminho inteiro

Onde está a liberdade?

Compra-se um sorriso

Dor é conhecer a si mesmo e chorar
É impossível olhar nos teus olhos
E não sentir dor

É o medo de encontrar a si mesmo
Que me impede de ser quem sou
Sim, porque eu sou tu também
E cada pedaço de maldade que te aflige
É um um grande ataque no meu coração

E assim, dilacerado por cada falta de ação
Vou moribundo pelas esquinas
Procurando meu lugar

Desespero é o fim da dignidade
É o fim da condição racional
O fim da condição humana
O início da necessidade

Mas trabalha, poeta,
Que o mundo também é tu
E cada sorriso teu é um passo a mais
Para um mundo de felicidade

Resposta a alguém com olhos mais calejados que os meus. Poema no link abaixo:
http://essamusica.blogspot.com/2009/09/vende-se-um-sorriso.html

domingo, 13 de setembro de 2009

Perdidos

Os meus músculos e o meu corpo
Da terra vieram e pra terra voltarão
Os povos que habitaram aqui eu não conheci
Mas foram ele que determinaram onde estou

Deus criou o universo e suas leis
A partir disso, a obra existe apenas
Onde as pessoas são, assim é sua tradição
Não é o divino que escolhe o teu caminho
As forças que existem
Só podem mudar a intensidade com que se percorre o caminho
Quem dá a direção é tu

Sonha, conhece, escuta
Ama aos outros como a ti mesmo
Sabe que o amanhã é um pedaço de ti mesmo

Quando abatido, lembra-te da perseverança
Quando machucado, lembra-te da tua força
Quando orgulhoso, lembra-te do pó
Quando vitorioso, lembra-te dos amigos

O orgulho é início e o fim do homem
A tradição é o início e o fim da humanidade
A loucura é o início e o fim do vício
A verdade é o início e o fim dos tempos

Profético, não?

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Não me deixe triste

Toda vez em que sol brilhar de novo
Sei que o meu calor foi embora
A aguá está fria agora
É chegado o fim de agosto

Sei que perco mais que você
Vejo aquele porta-retrato vazio
Onde estávamos, ao pé do rio
Esperando o amanhecer

Em qualquer forma de nuvem te encontro
E desejo cada vez mais a tua volta
Mesmo sabendo que aquela foi a última porta
Em que te coloquei no meu centro

A solidão é infeliz porque machuca com o passado
O que foi encenado está marcado
A tristeza é uma marca de batalha dos apaixonados

Esse ficou bacana. :D

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sim, eram pequenos pedaços de folhas
Se despedaçavam pelo caminho
Assim como meus olhos
Minha alma sentia uma luz diferente

A lua ainda não havia se despedido
E o sol já trazia a aurora de róseos dedos
A pedra conversava baixinho com o córrego
Que é regado àquela natureza pelos deuses

Entre todo orvalho
Flores pequeninas
Lilases, brancas, amarelas, vermelhas
Tão vermelhas quanto o calor daquele dia

E em toda essa natureza
Nada mais esplêndido
Nada mais espertacular
Do que te ver passar

E tu passavas pelo caminho
Mais levemente que o vento

Feliz dia do amigo.