quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Tem um monstro em mim

Tem um monstro em mim que me abraça forte e não me deixa respirar.
Tem um monstro em mim, tão oculto, que quando olham, só enxergam a mim.
Tem um monstro em mim, que está tão entranhado, que parece que sou eu.
Tem um monstro em mim que, quando olho pro abismo, ele me encara de volta.
Tem um monstro em mim, e toda vez que regurgito, sua fel enche minha boca.
Tem um monstro em mim, que não acredita em mim, mas sigo acreditando nele.
Tem um monstro em mim, e eu, abalada, com ele do meu lado, ele não me deixa acreditar em mim.
Tem um monstro em mim, que caminha junto comigo, de um lado pro outro.
Tem um monstro em mim e, quando me olho no espelho, me faz lembrar de onde venho.
Tem um monstro em mim, e quando preciso gritar, ele me cala.
Tem um monstro em mim, quando quero algo, ele me desmotiva.
Tem um monstro em mim, toda vez que a tristeza me assola.
Tem um monstro em mim, mesmo nas mudanças mais radicais de invólucro.
Tem um monstro em mim que rejeita o laço verdadeiro das amizades.
Tem um monstro em mim, sempre que quero ir embora.
Tem um monstro em mim querendo quebrar tudo, jogar tudo no chão.
Tem um monstro em mim que não quer mais nada, só me desvincular e sumir.
Tem um monstro em mim, neutro, apático, que não sente mais nada.
 
Tem um monstro em mim que venho alimentando há muito tempo.
Tem um monstro em mim, até não ter mais.

domingo, 24 de novembro de 2024

Caindo na real

I
De olhos fechados, viver é fácil
Viajar pelos sonhos e não cair
Concordar ou discordar, não importa
Não existe apego às preocupações

Mas a mim, aconteceu de acordar
E encarar a realidade
É tanta coisa difícil de entender

Frequentemente penso
Que a falta de sentido
É o próprio sentido da vida

II
Caminhar dentro da realidade
É se encontrar diante de
Pilares e areia movediça
Um santuário sarcástico
Com estátuas que riem e mandam
 
Cuidado, não vá se perder por aí

Invejo quem caminha no sonho
Porque não lhe ocorre a pergunta
A fundamental da filosofia
¿Vale a pena viver a vida?

III
Eu aqui, caminho sem direção
Se não há sentido, ¿pra onde vou?
Qualquer caminho serviria
Mas não sinto certo

Eu, pequena,
Entro no rio da vida procurando a verdade
Cada braçada é um golpe manco
Enquanto a correnteza me arrasta
Nunca me encontro novamente no mesmo ponto
Nem eu, nem o rio, não importa a decisão que tome

IV
Me agarro no porto de pesca, com medo da tormenta
Enquanto outros partem com leveza e despedida
Minha covardia quer esse lugar pra morar
Mas não é pra isso que um porto foi feito

E eu, que não fui feita pra nada
Minha única preocupação deveria ser manter o rio fluindo
Como se meu rio não corresse como afluente
Do grande amazonas social
(Registro usurpado por titã mundial)

V
Corro demais, desejando outros percursos
Que eu nem sei quais, nem por onde passam
Ou quais desafios oferecem
Mas quero ainda mais outra coisa
Quero que o rio não seque aqui

Não é possível, ¿será a minha sina?
Não importa o que eu faça
Eu tenho de voltar pra esse rio
Toda vez, toda vez
 
E aos giros com a realidade, a verdade e o sentido
Caio por terra, com olhos bem abertos
E sem razão

Beatles, Camus, Lewis Carrol, Heráclito, Milton Nascimento.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Sou num átimo

Eu me encontro em cada momento
Do presente em que permaneço
E se a mente foge
Me distancio de existir
 
Sou hoje, hoje me encontro, hoje vivo
E viva minha consciência me angustia
Me preparando para quem
Eu posso vir a ser

Agora: a linha que me conecta com o futuro
Agora, viajo por aí
E a linha cruza outras

E se o agora acaba, a linha me guia
Num novo agora
Para sempre estarei

Volando voy...

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Penso em ti

Inventamos as palavras
Para nos aproximarmos dos outros
Não precisei de muitas
Para chegar em ti

Em ti, já foram pensamentos,
Dedos, álcool, vigor
Sabor entra por onde saem sílabas
Estar contigo é viver

A mente, as sensações, as reações
Dançam por entre a chuva
Sapateira diante ao sol

Amante, as vibrações, as pulsões
É ardente te ver chegar
Após mais uma apresentação. Céu.

Só me sobraram algumas palavras, que eu escrevi sem pensar. E por aí vai...