domingo, 24 de novembro de 2024

Caindo na real

I
De olhos fechados, viver é fácil
Viajar pelos sonhos e não cair
Concordar ou discordar, não importa
Não existe apego às preocupações

Mas a mim, aconteceu de acordar
E encarar a realidade
É tanta coisa difícil de entender

Frequentemente penso
Que a falta de sentido
É o próprio sentido da vida

II
Caminhar dentro da realidade
É se encontrar diante de
Pilares e areia movediça
Um santuário sarcástico
Com estátuas que riem e mandam
 
Cuidado, não vá se perder por aí

Invejo quem caminha no sonho
Porque não lhe ocorre a pergunta
A fundamental da filosofia
¿Vale a pena viver a vida?

III
Eu aqui, caminho sem direção
Se não há sentido, ¿pra onde vou?
Qualquer caminho serviria
Mas não sinto certo

Eu, pequena,
Entro no rio da vida procurando a verdade
Cada braçada é um golpe manco
Enquanto a correnteza me arrasta
Nunca me encontro novamente no mesmo ponto
Nem eu, nem o rio, não importa a decisão que tome

IV
Me agarro no porto de pesca, com medo da tormenta
Enquanto outros partem com leveza e despedida
Minha covardia quer esse lugar pra morar
Mas não é pra isso que um porto foi feito

E eu, que não fui feita pra nada
Minha única preocupação deveria ser manter o rio fluindo
Como se meu rio não corresse como afluente
Do grande amazonas social
(Registro usurpado por titã mundial)

V
Corro demais, desejando outros percursos
Que eu nem sei quais, nem por onde passam
Ou quais desafios oferecem
Mas quero ainda mais outra coisa
Quero que o rio não seque aqui

Não é possível, ¿será a minha sina?
Não importa o que eu faça
Eu tenho de voltar pra esse rio
Toda vez, toda vez
 
E aos giros com a realidade, a verdade e o sentido
Caio por terra, com olhos bem abertos
E sem razão

Beatles, Camus, Lewis Carrol, Heráclito, Milton Nascimento.

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