sábado, 26 de outubro de 2019
Intratexto
terça-feira, 15 de outubro de 2019
Dedos
O tempo escorre por entre os meus dedos
Entre os meus dedos espaça o vento
Carregando o tempo por outros ventos
O tempo foge através de cada passo
O passo se apressa atrás do tempo
Deixando mais tempo para trás
A areia passa pelos dedos ao caminhar
Eu passo tempo com areia no calcanhar
O vento leva a areia através dos tempos
Eu fujo tentando ficar no mesmo lugar
Acaba o tempo, hora de zarpar
Por onde passo, o vento carrega meu tempo
As velas a me carregar
Me empurram pra longe do porto
Os ventos me empurram pra outros tempos
Os medos são levados pelo vento
Que traz outros tempos e outros medos
Eu lambuzo os dedos em outros tempos
O tempo escorre por entre os meus dedos
A navegação precisa, a vida imprecisa
Eu lambo os dedos, deixo o tempo me entranhar
O medo escorre por entre os meus dedos
Meus próprios ventos
Que me carregam através dos tempos
Obrigada, Pitty, por me mostrar seus medos.
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
Lobo do homem
Não precisamos mais da guerra
Já contamos com exércitos permanentes
Tomando conta de braços e mentes
Colônias são espólios de gente e terra
Controlando o mundo todo
Com uma mão, alimentamos o lobo
Que quer nos devorar
Cães de guarda a nos subjugar
Protegendo o capitalista
Que vem nos esmagar
¡O petróleo é o genocídio mundial!
¡O petróleo é o genocídio mundial!
O petróleo é a locomotiva do capital
Que vem nos atropelar
Com a outra mão, abrimos o caminho
Em busca da nossa liberdade
Damos a mão ao próximo
Unidos revelamos a verdade
Apenas nós produzimos a realidade
Que eles querem controlar
O anarquismo é a nova ordem mundial
O anarquismo é a nova ordem mundial
Ninguém vai nos reprimir
Quando pararmos as fábricas de destruição
¡Permanentemente!
¡Permanentemente!
terça-feira, 3 de setembro de 2019
Pela porta
Abriram a porta. Eu passei sem esperar nada. Era uma porta simples que se abria de dentro de mim para o mundo. Precisava pegar o elevador e tocar a vida. O trabalho me aguardava.
Já tinha feito isso tantos dias... Nuns, chorava e saia feliz. Noutros, ria, sabendo que menti pra mim mesma o tempo todo. Hoje não, muitas verdades saíram cortando. As verdades buscam minha boca como um fluido cheio de fel e vontade, mesma sensação do intenso refluxo que me acorda de noite. Ao saírem, a mente se sente feliz ao repelir estes elementos tóxicos de que vai se alimentar inconscientemente mais vezes.
¡Saí pela porta, sim! Sem esperar por nada nem por ninguém. Na porta do elevador tinha alguém. Esperando. Buscava descer. Minha primeira sensação foi de que não descesse. Ficasse lá em cima, onde eu também estava. Devia lhe dar um motivo pra ficar. Minha cabeça pensava em vários, mas todos centrados em mim, na minha vontade. Meu desejo é que ficasse, se não ali comigo, pelo menos com meu telefone, talvez um dia ligasse pra mim, recebesse uma mensagem. Seria feliz, pelo menos no momento do contato. Seria um eterno aguardo.
Todo esse imaginário se desenvolvia enquanto o elevador chegava. Me disse boa tarde. Ou fui eu quem disse primeiro. "¡Boa tarde!" e desviei o olhar. ¿No que estaria pensando? Afinal, ¿no que eu estava pensando? Tenho laços de seda com outra pessoa. Tenho amarras de sisal feitas por mim mesma para restringir meus movimentos. Só que não as estava sentindo, só lembrei que existiam.
Mirava discretamente todos os detalhes que me emocionaram. Ela era mais alta do que eu. Um pescoço comprido exibia uma gargantilha preta enquanto os cabelos ondulados se mexiam como véus ao seu entorno. Um olhar macio centralizava o carinho da face de contorno oval. Aquele nariz podia causar arrepios quando estivesse na nuca alheia. A boca era vibrante, colorida e quieta. O cabelo escondia as orelhas que os brincos denunciavam a existência. O blusão era quase colant, comprido até a cintura, uma malha de cor próxima da que sua pele carregava, uma sensação nude, com alguns detalhes pretos. Nada era excessivo. Uma calça jeans pro dia-a-dia e um tênis simples. Era só mais um dia, com tarefas pra fazer, elevadores pra pegar.
Tudo isso enquanto entrávamos no elevador. O silêncio me agoniava, precisava dizer algo, qualquer coisa. Não havia nada a ser dito. Me convenci de que isso era suficiente. Ela estava ali, demonstrando que existia dentro de mim que não estava amarrado. Eu estava ali, apenas sentindo. Pensava como se sentisse. E o elevador descia. Nós duas ali, no elevador, descendo, com a companhia do silêncio, paredes frias de aço escovado, sem espelho. ¡Sem espelho! Porque não queriam que houvesse reflexão naquele espaço. Sem reflexão, sentia. A porta se abriu sem que ninguém pedisse. Eu saí pela porta sabendo que o instante acabara. Não queria ser inoportuna, era só mais um dia na vida, com tarefas pra fazer, elevadores pra pegar. O trabalho me aguardava.
Três minutos em uma sensação que não sentia há anos. Três minutos e tudo revirado, pra lá e pra cá, sem amarras. Os laços se mantém vivos porque me mantenho viva. Viva e sentindo e me abrindo. As escaras e rugas internas são o resultado da luta para quebrar a casca do ovo. A porta e a casca e a sensação de passar pela porta e quebrar a casca, mesmo que só um pedacinho, e ver a luz. A sensação de ter sentido, me sentido, sem amarras, por três minutos. Vou lembrar disso até furar a casca e sair. Obrigada, moça, por ter buscado o elevador ao mesmo tempo que eu.
sábado, 29 de junho de 2019
Preciso de um tempo
As coisas só são quando são. Só podem existir em um momento no tempo. E por isso, só existem fotos. A vida é um filme de rolo. Uma passagem de fotos em sequência. E só existe uma sequência. As outras sequências, ignoramos.
As coisas necessitam ser no tempo. E por isso, só são precisas no tempo. As coisas em mais de um tempo são como um borrão, quando se tira uma foto de algo em movimento.
Quando pensamos em pessoas, pensamos num ente, que se desenvolve, mas é sempre o mesmo ente. É o mesmo ente porque necessariamente carrega a própria história, sua sequência. Mas isto é a única coisa que o ente carrega entre dois tempos.
Por isso, quando olhamos pra uma pessoa e dizemos: ¡nossa, quanto tempo! Não estamos falando pra pessoa que já conhecíamos, mas pra pessoa que agora está. Quando escutamos sobre uma pessoa histórica, temos de entender quando ela é. Afinal, como Arnaldo Antunes ensina em sua música:
"todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu"
Se você pensa que sabe com quem está falando porque conhece seu passado, não percebe o quanto pode ter mudado. E você também.
domingo, 2 de junho de 2019
Desordem
E se as coisas apenas existirem? Se não houver qualquer sentido para tudo existir? Apenas aconteceu. O que aconteceu e como aconteceu e é o limite do nosso conhecimento. Afinal, qual o limite da razão de um cérebro de 80 bilhões de células? E do conjunto de mais de 7 bilhões de cérebros de mesmo tipo? É interessante como ter 80 bilhões de células no cérebro não explica a sua natureza. O cérebro, um dos acasos mais impressionantes da natureza não apenas é o que o compõe. A natureza das partículas subatômicas não é suficiente para entender o gosto da água.
Por indução, nem sempre a soma das partes garante todas as propriedades do todo. O todo pode ser algo que excede o sentido do que o compõe. Assim vão se abrindo os fractais do caos que é a natureza.
O mundo não é racional. Não sou descartiana. Não duvido dos sentidos, não concluo que o ser perfeito existe. Imaginar a perfeição e o ser perfeito só demostra o limite da nossa razão, que supõe conceber a perfeição. Sou uma intelectual. Uma cética. Sou atéia. Mas não é possível ser cética o tempo todo.
Só que este lado da linha é vazio. Vazio de sentidos e razões. É como se tivéssemos que criar o sentido a todo o momento, e isso é pesado. É dolorido. Cansa. A sociedade cria os sentidos para manter a coesão, e liberta o pensamento para outras buscas. As pessoas comungam razões e isso é o que garante a coesão das tribos. Não ver sentido é não conseguir criar laços. É ver os laços e não se sentir parte deles. Negar o motivo pode gerar exclusão social. As pessoas que negam os princípios que as sociedades criam são marginalizadas.
Disso, a única coisa que pode salvar é relação da minha consicência com meus sentidos. Preciso mais do que acreditar no que me dizem os sentidos. Preciso senti-los. Preciso deixar a mente sentir. Porque o mundo não é racional. E a mim, na arte, o que não é racional, por vezes, me encanta. O humor que me emociona é o absurdo. É ácido. O lugar comum me cansa. Talvez haja algo de positivo em não fixar os laços. Mesmo com todas estas condições, com frequência encontro pessoas com quem faço laços. Mais do que isso, com quem tenho interesse em fazer laços. Pessoas com quem eu mantenho meus laços.
Preciso de arte para viver. O sentido que podemos criar para nossas vidas é a arte, pois a arte é sentir.
Disclaimer: Esse é apenas um esboço incompleto e desordenado. Como os limites da razão humana.
sábado, 9 de março de 2019
É fogo, amigo
Cabeça abaixada em busca de solução
Apenas quando os tiros vêm
A violência é o domínio da força
A força não anda de trem
Cabeça ao alto e armas na mão
As pedras não param quem
Não tem nada a perder
Temos apenas o dia de hoje
Para mudar o dia de amanhã
Temos apenas o dia de hoje
Para mudar como vivemos
E apenas no dia de hoje
A revolução vale a pena
Vivo sem saber até quando
Ficarei viva de joelhos
Me lamentando as oportunidades perdidas
Mas a revolução não se faz sozinha
E não há pra onde correr
quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
Davos
Em uma terra distante
Cercada por águas sujas
Inacessível aos mortais
O monte Olimpo se erguia
O monte fora erguido para deleite dos deuses
Se reuniam periodicamente
Seus afazeres eram decidir
Executar a sangue frio
Mais dores nos humanos aflitos
Que ao pé e ao cabo,
Lhes ofereciam infinitas oferendas
Vez em quando, semi-deuses
Como que pra provar que tinham direito
Aos pequenos poderes concedidos
Depois de conseguirem subir a humanamente inacessível montanha
Voltavam para a terra e para os infernos
Com 12 missões incríveis
Algumas tarefas eram inglórias
Tinham de descabeçar a previdência
Renegar o direito a renda
Financiar a guerra
Administrar a venda
Do pouco que os humanos ainda tinham
Os deuses querem ser donos dos destinos
Os deuses querem o poder do destruidor
Os videntes diziam apenas as verdades inventadas
E os oráculos ficavam cada vez mais poluídos com as constantes mentiras
Quando Sócrates se rebelou e renegou o poder dos deuses
Denununciou o poder do Olimpo
Foi morto e sacrificado
Através da histeria coletiva
Que os deuses incitaram nos humanos
E 2400 anos depois, ninguém mais conhece os deuses
Mas todos lembram de Sócrates
Os deuses foram mortos
Sócrates eternizado
No momento que o Olimpo domina a população
Os humanos têm de lembrar
Que apenas a eles, lhes foi dado o poder de decidir os destinos
E que apenas eles podem escolher pra quem entregar os destinos
Cortem-lhe a cabeça
Ponham uma cabeça de dinossauro
No lugar
sábado, 29 de dezembro de 2018
Círculos
Existem certos círculos que delimitam a realidade social. Os campos discutem, mas a ascensão da internet permite que outsiders tenham legitimidade pelo poder de influência. Essa é a própria discussão da democracia na política: será que apenas porque você convenceu mais pessoas a te escolher - depois de ser permitido pelas elites políticas -, você é de fato capaz e ético para liderar os interesses do conjunto de milhões de pessoas, os recursos de milhões de hectares de terra, os direitos e deveres?
A democracia não é um pacto que permite suicídio coletivo. Este blog sempre foi um espaço para a poesia, por que vejo muita beleza na arte da palavra, principal da palavra escrita. Mas os textos são apenas uma organização de símbolos que carregam significados sociais que são apropriados pelos indivíduos gerando sensações e sentidos internos. Assim, a própria existência destes símbolos organizados é a necessidade de existência do significado. Sem significado, eles não existem.
As pichações são indecifráveis pra quem pensa com a estética média e burguesa, mas as gangues as percebem de forma muito clara. Cada pichação é uma tentativa de deixar uma mensagem. Muitas vezes são: eu consegui chegar aqui.
Estes poemas giram em torno dos dilemas que eu sinto e vão significar apenas para os que sentem coisas parecidas. Muitas vezes passam pela negação de valores sociais hegemônicos, mas a estética é muito próxima da utilizada pelos mesmos valores. Isso demonstra de onde vim: uma estética burguesa e média. Por isso, é difícil que deixem de ser medíocres. Se um dia forem lugar comum para a sociedade é por que esta emissora foi colocada em posições de poder. (¡Oxalá não sejam comparados com os terríveis marimbondos de fogo!)
E girando em círculos, há mais de década estes escritos marcam e demarcam quem eu fui no tempo. Minhas consistências e metamorfoses. Nas entrelinhas, existe uma autobiografia poética.
Outsiders do mundo, destruí-vos. São apenas emanações dos erros humanos que foram filtrados pela ciência. Seu sucesso é mero acaso probabilístico.
A face do destruidor.
domingo, 14 de outubro de 2018
Onde
Pra onde ir?
Só há um lugar no mundo
O mundo
Fugir do mundo é fugir da existência humana
Cobrimos cada canto do planeta com nossa existência
Somos em toda a parte
Nunca seremos de todo
Todos os lugares são iguais
Alguns caixotes de cimento diferente de outros
Mas caixotes para macacos morarem dentro
Carregam água limpa, alimentos,
energias e outros fluidos
Eu sou uma caçadora
Em um lugar escondido
Uma caçadora em busca da caça
Eu sou a caça
Num lugar proibido
Uma caça em busca da caçadora
O duelo final é um só
Um dueto
Em todos os lugares do mundo
Do meu mundo
Da minha terra
Do meu ventre
Do meu ser
Que nutre a caça
E a caçadora que busca
Não se tornar presa
Presa dentro um corpo moribundo
De um planeta fúnebre
Em que o ódio instrumentaliza a violência
O medo rega a paranóia
De um corvo depenando uma coruja
Não existe lugar no mundo
Para onde se possa ir
Mais longe do que se está
Em si
terça-feira, 8 de maio de 2018
Uma ode à loucura
A loucura é boa
A loucura enlouquece e se torna sã
A vida gira, isso é loucura
Milhares de fios entrelaçados sem sentido algum
Isso é loucura
A sociedade alternativa? Loucura
A lei? Mais ainda
Estou louca é viver
Viva enlouqueço os outros
As formas desfiguradas tomam conta das ruas
As linhas retas são uma ilusão
O clássico é um mito
Loucura de blusão no sol
Loucura pipocando
Loucura pela pela rua
A morte é o fim da loucura
O fim da loucura é morte
Loucura por dentro
Loucura por fora
Loucura em flautas
segunda-feira, 8 de janeiro de 2018
Pop
Crianças correm em minha volta
O sol ofusca minha visão
O vento alisa meu rosto
É tarde, tudo fora de compasso
Anoitece, o ritmo cresce
Pede o balanço e o passito
Carinho e charme a me esquentar
O sabor é doce
O resultado é o ritmo
O ritmo é me soltar
Você me segura no ar
Meu coração pára
POP, sinto estourar
Boas festas.
terça-feira, 24 de outubro de 2017
Rio
Mais um Silva me deu oi hoje na rua. Talvez tivesse comido. Não penso que dormiu, não parecia relaxado, era visível que ainda vivia o mesmo dia de ontem. O sinal fechou, meu olhar também. Prédios gigantes se amontoavam vazios, sumindo sem luz na noite escura. O morro se acendia como uma vela de oração.
Cabeças baixas não me percebiam enquanto dividíamos a mesma calçada. O vendedor na esquina me cumprimenta e me pergunta ser levarei o pão. Hoje não, não mesmo. Trabalho por honestidade, mas o salário não cai pela injusta falta dela. Mais de 500 anos pro Brasil descobrir Cabral e tudo o que nos levou.
Volto em Janeiro. O Rio não será o mesmo, conquanto eu também não o seja. Nas suas águas, abriu-se o mar vermelho e os escravos tentaram fugir quando já era tarde demais. Restou-lhes aguardar a terra prometida: uma cidade maravilhosa.
Será que o Maracanã durará mais do que o Coliseu? Nero sempre me deixa em dúvida. Um pedaço de mim aqui fica.
Uma pequena homenagem a Bob Rum.
sábado, 25 de março de 2017
Essencialmente
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Campos de Morango
A consciência é o que define a nossa essência humana. É ir além do mundo ao redor ou do outro. É perceber a existência inexorável de ser. Não é possível não ser. Somos consciência, que está atrelada diretamente a um órgão, o cérebro.
Nossa existência está confinada ao nosso corpo. No entanto, a falência de diversos orgãos não caracteriza o fim humano. A falta de movimento nos membros, o descompasso dos rins, a cegueira, o coração descompassado. Tudo isso não impede a tua existência humana. O que impede é a falta de funcionamento do cérebro pra permitir uma consciência apurada.
Um cérebro que não esteja funcional impede a normalidade de nossa essência. Depressão, esquizofrenia, mania, ansiedade são doenças que produzem um sofrimento contínuo e de baixíssima intervenção.
A nossa existência efêmera sempre teve sentença de morte. Qual a diferença entre escolher a hora de morrer e morrer sem escolher? Nenhuma. Não existe nada depois da morte. Se todos estamos mortos, porque continuar esta batalha para continuar vivos?
terça-feira, 25 de outubro de 2016
Vem, vamos embora
Entre por esta porta agora
E diga que me adora
Você tem meia-hora
Pra mudar a minha vida"
Eu sinto a tua falta
A tua falta em mim
O teu carinho
O teu calor
Eu sinto a tua falta
A falta de tu entrar pela porta dos meus olhos
E dizer:
VAMOS EMBORA
A tua atitude, o teu carisma
O teu jeito de me cativar
De me escolher
É clichê
Mas eu sinto teu cheiro no travesseiro
E me abraço nele
Tu tinha um jeito especial de me fazer sentir viva
E eu te escolhi por isso
Eu quero te ver de novo
Eu quero aquela mágica me enebriando
Vamos recomeçar?
Não quero perder meu tempo
Muito menos o teu
Eu quero sair
Não quero mais ficar aqui
Ficar em mim é insuportável
Eu preciso da tua atenção
O pranto me deixa a cara formingando
Essa sensação horrível
De o coração sair pela boca
E a cabeça fica zunindo
As mãos batem com força no peito
Eu não me sinto em mim
A sensação de não estar aqui é muito forte
A respiração ofegante é a única coisa que me prende
No aqui e no agora
Eu me sinto
Falta me sentir viva
Fim.
Viva Adriana Calcanhoto.
domingo, 4 de setembro de 2016
Buffet livre
É um pedaço em fogo
É politica que arde
É grito e sufoco
É pouco
Nada vai acontecer
Nada
Talvez mudem as estações
O salário continua sumindo
O escravo sofrendo
Vários mundos em um só
Vem se desfazendo
Até virar pó
Impedimento é um prato que se come frio
E essa terra esfriou há bastante tempo
sexta-feira, 5 de agosto de 2016
Não me deixe só
Eu sou minha pior inimiga
Me dá frio na barriga
Ficar só à mesa
Eu caminho sozinha no escuro
Não é possível ver nada
Só sinto a mim, no vácuo
Vazia e com a respiração ofegante
Penso que me movo
Mas estou no mesmo lugar
Perdida, cansada
Me canso de vagar
Meu pedido é simples
Não me deixe só
Eu sou um pesadelo
Você me leva pra um lugar melhor
Não nos deixe só
O mundo será sempre pior
Sem a tua voz
Teu odor
Teu carinho
Nosso amor
A solidão existe
Na morte, no espaço
Na minha cabeça e no meu abraço
A solidão
E só
terça-feira, 3 de maio de 2016
Sem espaço
Um mundo pequeno, infinitamente pequeno, tomou conta de mim. Um ponto no espaço revela exatamente que eu não tenho espaço. O ponto se repete, se ilumina e se apaga todas as vezes que algum dos seres nascem e morrem. O ponto não é. E não somos nós, mais do que um ponto. Um ponto em movimento no espaço imenso, nos despedaçando em uma quantidade ínfima de tempo.
Sentir é uma ilusão. Nada pode completar algo tão pequeno. Nada pode ser onde nada pode estar. Hoje, um ponto, uma luz. Amanhã, sem ponto, sem luz.
E na imensidão do espaço-tempo, os pontos se unem e se separam numa dança de um tempo inobservável. Tantos pontos quanto se possa imaginar. A consciência acessa o ponto, o ponto deixa de ser objetivo e passa a ser subjetivo. No entanto, um ponto observado, é uma realidade dentre as muitas que ele pode ou não ser.
O ponto se esvai no caos da cidade, na babel da internet. O ponto que eu sou, o ponto sou eu. O ponto, na ponta. O ponto apontando. O ponto sem eu. O não-ponto.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Tecnologia
Pedras, lascas, varetas de fogo
As pessoas polidas sempre assassinas
Plantações, currais, aquedutos
Ferro, bronze e guerras bonitas
Sanguinários, os olhos vermelhos enchem os campos
De batalha, se fundem os corações e os leões
Da morte, vivem os moribundos e os anjos
Do forte, choram os pobres e os vilões
Os tiros, as bombas, o calor dos infernos
A fome, de perto, os urubus, de longe
Despedaçam minha consciência a cada clique
Para o sofrimento dos outros
Na guerra é a gente que cria,
Por necessidade, a tecnologia
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Plural ou nada
Tem gente que diz que a melhor defesa é um bom ataque. Tem gente que diz que o melhor ataque é uma boa defesa.
Dissolver o ego não é perder a própria identidade. Nossa existência num corpo, muitas existências num corpo. Até hoje só pudemos descobrir a existência a partir da noção de consciência. A consciência da existência nos faz perceber não apenas os outros, mas a nós.
Pequenos fragmentos de mim. Vários eus num mesmo corpo, sem controle um sobre o outro. Quando brigam entre si, nós choramos. Um pedaço cai, outro também. Até que não sobra nenhum e eu fico apática. Cheia de energia, inventiva, lógica, ambiciosa, pessimista, deprimida, suicida, dona do mundo.
O melhor de mim e o pior de mim, em mim. Perder o controle é tão fácil.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Meu amigo secreto
- Deixa estar. Disse ela, sem convicção.
A tragédia já estava pronta, não havia plano B. Era só esperar acontecer. Olhava pro mar procurando um último suspiro de vida. Um urubu procurava peixes mortos entre o lixo acumulado na margem da praia. Um vento triste sopra em seus ouvidos. A morte se anunciava nos jornais como um acontecimento da natureza, no entanto, ela sabia que não era assim.
Caipora estava ocupada tentando proteger outros seres na floresta. Os homens já não estavam por perto. Oxum chorava triste à margem do rio, sentia como se tivessem matado mais uma parte de si. Mais triste ficava por não ter sequer uma lágrima doce. Tentava avisar Iemanjá, mas já era tarde, só podia esperar acontecer. Não existe oferenda que resolva quando se ataca um orixá assim. De um lado ao outro do oceano, quem passa pelo bojador gera cada vez mais dor. Iara, por que não vem buscá-los? Xangô, anuncia tua justiça! Da tua pedreira construiram a destruição, a nós resta a rendição?
O mar azul hoje é um mar vermelho. Um rio morto! Pavimentado. Sem vida, sem ar, sem paz. A guerra foi declarada contra todos os seres. O karma vem e vai alimentado pelas ondas do samsara. A velhice e a doença atormentando a todos. Como é possível olhar para isto, se sentir responsável e não fazer nada?
Ela continuava imóvel assistindo a tudo com o coração parado. Olhos e ouvidos fechados, tentando não sentir o mundo. O mundo era ela mesma. O mundo que ela não fez, mas que dela fazia morte.
Cadáver sobre cadáver. Morrem todos, morre tudo, morre quem mereceu e quem não merecia. Morrem na guerra e na paz, com mais sofrimento na guerra. A morte não alivia.
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Pequeno
O pequeno
Piccolo momento
Niños y niñas
Un bâton
O chão gira
O pão cresce
A água desce
O fogo, pira
O vento mexe
Aqui dentro
Só, pequeno
Grande vai saindo
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
Estou orgulhosa de mim
Estou calma. Estou em paz. No meu mundo interno, cessou a tormenta. Eu vejo o passado, vejo o presente. Não é sobre onde eu cheguei. É sobre quem eu me tornei. Eu me vejo em mim. Funcional, bonita, normal. Cheguei ao bojador. O sofrimento é um sentimento distante, inconstante, vazio.
Se sinto dor? Sim! Estou viva! Cada pedaço real de mim é um pedaço na minha consciência. Ter adequado a realidade não me trouxe a fórmula da felicidade. No entanto, me alinho comigo mesma. Não grito mais pela dor lancinante que emanava de um pedaço para todos os outros pedindo para desligar a vida. Nem mesmo a sinto. Me sinto bem, é como se após limpar a casa e trocar alguns móveis, minha casa voltasse a ser cômoda, confortável e sadia. Uma casa agradável não é a fórmula da felicidade, mas pode te permitir viver melhor e com menos preocupações.
Tenho orgulho de mim. Vim, vivi e venci. Anos para entender afinal o que acontecia comigo - e ainda restam outras coisas a entender - e poder ir atrás do que me faz bem. Eu me sinto bem por ter seguido o caminho, mesmo que me afligissem o medo, as distrações, as confusões, muitas vezes sozinha. Eu trilhei o caminho e construí a minha estrada. Tenho orgulho de ter caído tantas vezes, achando que ficaria no chão para sempre, e ter me levando, limpado as lágrimas e seguido em frente.
Eu sou quem eu sou. Sou quem eu fiz de mim. Agradeço a todos pelas contribuições e não me ressinto de todos que trouxeram obstáculos. Todos vocês são parte do caminho. E o que deixaram comigo é parte de mim.
domingo, 4 de outubro de 2015
I have a feeling
And there I was, looking to the traffic through the window. It's the same feeling always: emptiness. There is no meaning in anything. Like your life is always a heavy stone to others to carry that is a threat to other people's life. So, why should I continue? There is no reason to feel like this way forever. If you doesn't help, just don't mess up.
And there was the raining. And a bird, so many birds flying around. There is changing in everything. Our nature is impermanence. So is mine. Then, I felt complete. Complete, cause nothing can complete me, and I was full of nothing.
And there was traffic jam, people overreacting about losing a time they would only turn off. They cannot feel what is inside them and became angry. They cannot even fell themselves, how could they fell the others? Some says that our culture is selfish. I don't have the same view. Cause people do not fell their selfes! They don't control their emotions, fellings, thoughts, speeches and actions. There is nothing selfish in consumism, it's just a way to fill up our emptyness.
Look for what differs you from anothers? Nothing. You are the same. We are the same. We are all looking for happiness and avoiding suffering. Why to continue suffering? Life is only a thing that our minds can know by our brain. Our highly evolutioned brain. It only exists in our body, in our perception of the world.
So here I am, rocking myself up to the mountain, like Sisifo. Every day is another to keep pushing myself up from the down of the mountain. God, I wish I could change the mountain! God, I wish I could change me! Me and the mountain are the same, and so are you.
Can you feel it? I do.
"I only know that I know nothing, and this make aware to look for wisdom and knowledge." (Adapted from Socrates speech attributed by Plato).
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Quem é você?
Quem é o trabalhador? Quem é você?
Quem é do povo negro? Quem é você?
Quem manda no Estado? Quem manda em você?
Quem casa legalmente? Quem pode expressar afeto por você?
Quem existe pra este mundo? Onde está você?
Nos defendemos tanto sem saber
Quem de fato pode nos atacar
Na selva de pedra, todo dia é uma batalha
Só a morte é o fim da guerra
Quem sofre por seu gênero? Quem faz você sofrer?
Quem não pode acessar a sociedade por conta de sua deficiência? O que faz você?
Quem é internado por tentativa de suicídio? Quem cuida de você?
Quem é você? Será que sabe ler? Conhece algum analfabeto funcional?
Nos defendemos tanto sem saber
Quem de fato pode nos atacar
Na selva de pedra, todo dia é uma batalha
Só a morte é o fim da guerra
Vergonha, auto-humilhação, auto-mutilação
Definhando por não comer ao ver um corpo dismófico? Quem é você?
Falsa humildade, vaidade, brinca com as necessidades alheias
Quem é você? Você atravessaria o mundo pra alterar o que a natureza fez de você?
Nos atacamos tanto sem saber
Por que é necessário matar?
Homem-primata, destruição tecnológica
Mata árvore, mata boi, mata Atlântica
Mata o outro sem nem olhar pro lado
O próximo é você?
Pelo bolso, mata povos inteiros
Só falta querer fazer o mesmo no céu
Quem compra sua comida? Quem a planta pra você?
Bebida suja na natureza limpa, melhor açúcar e sal com gás
Você tem sede de quê? Você bebe o sangue de quem?
Quem se diverte por termos diferenças?
Qual a arte de rir de quem está marginalizado?
Nos defendemos tanto sem saber que já sabemos...
Legião e Titãs
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Matemática
Todos somos produtos
A ordem dos produtos não altera o resultado
A soma de todos é 1
Não cabe diminuir, menosprezar
Toda vida é sagrada
Dividir para conquistar?
Unir para completar!
O mundo natural, amoral
Nos mostra apenas o que é real
O racional que nos guia aos imaginários
Mostra como somos complexos
E como por eles nos tornamos irracionais por inteiro
O ábaco dos anos não é programado
Tal qual um relógio de areia
A teia do tempo se curva no espaço
E tudo o que sabemos se torna irrelevante
Vazio como um instante fora do universo
O tempo é o mais sagrado deus humano
Operando a vida, o médico entra em ação
Suas mãos robóticas e o ambiente esterilizado
O fôlego paralisando, escuridão...
Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma
Um papel e uma cirurgia me renovam
A morte e a vida em uma superposição de estados
A incompreensão dos outros é tão forte
Quanto a metáfora do gato quântico
Sigo sendo eu mesma integralmente
Infinitesimal nesse mundo contínuo
Me encontrar pelo caminho
Sem atalhos, sem derivar por outros caminhos
Sei que vou encontrar resistências
Vou ser induzida a comportamentos negativos
Mas sei também que sou capaz de poder ajudar todos os seres
A se sentirem e a serem mais positivos
A ciência e a arte me emocionam
Ondas que reverberam por todas as selvas
Me enchem os ouvidos de felicidade
O canto que vem das pedras
Ou da existência pacífica dos outros ambientes
A luz que me ilumina, faça lua ou faça sol
Os gostos e cheiros que se espalham dentro do meu corpo
Em cada fase da vida
Mexem com frequência no meu coração
Força, vai dar tudo certo
Basta um impulso para acelerar
Depois disso basta ser constante
O que está em movimento continuará no movimento
Internamente, gira a bússola
É hora de me mudar
A equação da vida
É um eterno caminhar
terça-feira, 14 de julho de 2015
Oito meses
Os dias passam devagar
As paredes e o teto me confundem mudando de cor
Cada tom varia durante o dia
O sol e as lâmpadas compõem uma música lenta e melancólica
De repente, não há portas ou janelas
O mundo gira dentro da minha cabeça e não há escapatória
Como numa máquina de lavar
Meus pensamentos ficam imersos, são sacodidos, e se debatem dentro de mim
A vontade de desligar da tomada é enorme, mas tenho uma conexão mais forte
Mesmo que a vida não tenha nenhum sentido, mesmo que tudo o que a gente faça fique num passado esquecido
A sepultura ainda não é lugar pra mim
Não é lugar pro meu amor ou pra minha compaixão
Um amor correspondido é como a mesma vida em duas pessoas
Meu amor e minha vida, agora no mesmo lugar
Oito meses, oito anos, oito séculos
Vai ser eterno enquanto carregarem nossa existência
Mas que existam tantos outros amores por aí para nos diluir e um dia deixar nossos laços em paz
A completude existe na vacuidade de não sermos dois
A vida, nem cansada, nem repetida, vai nos carregando pra novos destinos
O tempo vai passando
Não sei mais onde estão as paredes e a chuva me molha friamente
O vento e o temporal compõem um lindo quadro na minha janela
A porta se abre
Ele chegou
domingo, 5 de julho de 2015
Sinto
Sinto meus pés a cada passo
Sinto meu coração acelerado
Sinto uma música no meu viver
Vivo a sensação de assim me ser
Danço como gira o mundo
Me abro como as asas de um pássaro
Pinto de rosa minha felicidade
Saia é a minha intimidade
Recomeço tudo e vago
Com os pés no chão do amor
E a mente num estado libertador
Sou nova e sempre a mesma
Sou amada, porque me quero bem
Sou eu, nunca me senti tão eu antes
Obs.: Sentire significa tanto sentir quanto escutar em italiano.
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Libertador
Libertador é a faca na mão certa
Libertador é me livrar de um apêndice maldito
Libertador é poder viver meu corpo conforme minha cabeça
Libertador, ser quem eu sempre fui
Como pude me enganar por tanto tempo?
Como pude negar meus sentimentos mais íntimos?
Negando a mim mesma, cheguei perto da morte
Negar quem se é, é morrer cada dia
Libertador, viver do lado do meu amor
Poder beijar, abraçar, amar
Viver a vida com todo meu ardor
Em breve,
Quando tudo isso acontecer,
Estarei liberta da dor