sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Stelle di mezzanotte

Há mais de 5 anos ele surgia
Um novo astro brilhava radiante
Sua luz iluminava meu coração
Sua proximidade era eletrizante

Por muito tempo estive com ele
Este astro me conduzia pela via láctea
Éramos um binário girando enternecido
Navegando pelas teias do espaço-tempo

Por muito tempo ele esteve comigo
Cuidando da cadência com seu pulsar
Da carência com seu cuidar
Da vivência com seu amar

Aos poucos seu núcleo foi mudando
De oxigênio que produzia
Agora era pesado ferro
Que desgastava nossa convivência

De repente, passei a ser simples pessoa na janela
E este astro, só mais uma estrela no céu
No passado e no espaço se distanciava
A mais de 5 anos-luz de mim

É meia-noite
Acendo a lâmpada
Não há nada mais para ver lá
Começa então um novo dia

Um pouco de Miles Davis para embalar um término

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Devenir fou

As ajuntações se repetem nesse período. Os sonhos se despedem, meus olhos se abrem e percebo que passa das seis da tarde. O celular vibra e chama minha atenção para as inúmeras mensagens pedindo pra confirmar o rolê de hoje. O sol se põe, enquanto eu me levanto. ¡Nossa, preciso escovar os dentes pra tirar esse gosto de vômito da boca! Vou despertando. A preguiça e a lentidão me acompanham nesse almoço às sete da noite. Coloco minha calça rasgada-suja e uma camiseta com uma frase niilista que expressa minha decepção com a humanidade que produz a sexta grande extinção em massa no holoceno. O lápis de olho se mistura com as olheiras e o batom preto mascara meu sorriso. Pego minha vodka e saio, não preciso de mais nada pra fazer bobagem. Cética, só posso acreditar nos sentidos. Entorpecê-los é tentar buscar prazer pra essa mente amargurada e pessimista. Assim começa mais um dia nesse planeta de idiotas.

A lua e os celulares iluminam a via em que eu e meus amigos marcamos de nos encontrar. O som do bumbo da bateria se propaga pelo beco enquanto meus amigos vão chegando. Logo, o ritual de cumprimentos, piadas idiotas e goles espalhafatosos se sucede. As drogas trocam de mãos enquanto nos preparamos para entrar. Todos queremos devenir fous e se distrair. Decidimos entrar e passo a sentir as guitarras se misturarem entre acordes e solos. A vocalista desabafa e me encanta, alternando harmônicos tons vocais e a cadência fônica do rap. O baixo dá o compasso e todos se balançam em conjunto. Sou parte disso e muito mais que eu não quero lembrar. Onde estou é o que sou agora. Começo a dançar para espantar os fantasmas que me acompanham e a energia vai se descarregando rumo à terra. Dois amigos começam a se beijar. Me excito, ¡preciso encontrar alguém para expulsar esse abraço gelado e esquentar esse corpo!

A música deixa de fazer sentido e canso. Chamo um amigo e uma amiga para o fumódromo. Só lá é possível sentar ao ar fresco e ainda sentir o cheiro da festa. Estou jogando conversa fora. Ela surge, passa agindo como dona de tudo, até fermarsi e apoia confortavelmente as costas e a sola do pé na parede. Da bolsa apoiada na perna dobrada em v, puxa um cigarro, coloca-o na boca e observa atentamente todo o ambiente. Para olhando pra mim e acende o cigarro. Ela estava ao fundo, às costas do meu amigo, e a conversa que eu estava tendo com ele como que desaparece e perco totalmente o foco. Meus olhos desviam sem acreditar no que se passa. Não esperava por isso, afinal nunca espero nada. Mas está acontecendo. Um silêncio assoluto me assola. A timidez e a auto-estima se confundem e finjo não estar acontecendo nada. Paralisada, onde mais posso estar além de dentro de mim mesma?

A música externa anima meus amigos, que me tiram do transe e me puxam de novo para a pista. A batida está mais animada e meu amigo se entrega totalmente às vibrações melódicas e dissonantes. Eu e minha amiga resolvemos segui-lo e dançamos juntas, sexys e provocativas. O quadril balança e minha mão na cintura dela diz sobre o que sou capaz. Ninguém se importa e justamente por isso nos sentimos a l'aise para continuar. De repente, ela emerge da multidão com mais duas amigas. Se aproximam até que dois grupos que nunca se viram se misturam. Agora ela está ao meu lado e minha amiga vai se afastando, motivada pelos sinais que bombardeiam o ambiente, enquanto eu prefiro só fechar os olhos e aproveitar. De um momento para outro, dançar deixa de ser apenas a busca da liberdade e passa a ter um gosto diferente. Não quero mais apenas me impressionar, quero arrasar e seduzir outres. Aos poucos ela vai se aproximando de mim, minha barriga não para a ginga e o quadril segue a rodar. A minha mão para cima como que chama por algo que eu não sei o quê. Só quero sentir algo nesse mundo sem razão.

A separação entre música externa e meu estado interno - que vinha desvanecendo com a dança - se dissolve definitivamente quando meu corpo e o dela se unem e se completam. Suddenly, meu passo e o dela são o mesmo. Troca a canção e a vocalista traz uma letra sobre desejo e tesão. Não tenho mais como resistir e me deixo ser beijada. Vou me deixando dominar pelo inconsciente e o ritmo é a gente quem compõe. Os guitarristas arranham as cordas, bem como eu as costas dela. A cantora se esgoela e ela no meu ouvido não para de gemer. Sua boca se aproxima da minha nuca e me morde como o tapping no baixo e de súbito me arrepio como os pratos da bateria. Acabam-se as barreiras, sou serva das vontades. Os sentidos só sentem, sem controle algum, e estou onde queria estar. Nossas barrigas coladas, os rostos de frente e meu olhar convidativo, minhas pernas flexionadas e entrelaçadas com as dela que se balançam ao sabor da bateria que não para.

As músicas se emendam sem fadeback e o tempo é como um fluido escorregando pelos nossos corpos. Essa interação intensa vai se mantendo, ignorando que as pessoas estão indo embora do ambiente. A proximidade das bocas, das coxas, das mãos à pele se mantém. A banda anuncia a denière danse. Aos poucos nos recompomos e nos reconectamos com o ambiente. Nada dura pra sempre, não é mesmo? Seria mais um evento furtivo numa vida sem sentido (todas são) mas decidimos trocar contato. Pista fechando, preciso pagar. Nos despedimos com um beijo que dizia voglio di più. Procuro por meus amigos, não os encontro. Nos divertimos hoje pra esquecer que depois de dormir nada lá fora vai ser melhor.

Devenier fou, merci saez. Ed Sheeran e as crônicas de jeune et con. Pitadas de Fall Out Boy e Kyo. Lembranças de Thoreau e Pearl Jam.

Eu perdi a primeira versão do conto, que tinha um enlace muito melhor e estava mais poético. E aviso, vai ter parte 2.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Novembro

Setembro acabou há um tempo
Eu não acabo nunca
Não me acabo 
Porque me completo
Com o amor que vem de mim
Aditivado com o teu

Porque o amor é infinito
Somar dois amores 
É ter um grande amor

Encontramos essa semente
Regamos com cuidado e com carinho
Hoje é uma imensa árvore
Que oferece oxigênio pros nossos queridos

Nossas flores espalharam pólen
Pela serra, pelo rio, pelo porto
Quem conhece se apaixona
Contagiado pela sensação permanente

É uma sinergia romântica
Sexy, excitante
Com compaixão e carinho

E já são quase 5 anos
Nessa história de amor
Que eu nunca tinha conhecido

Quem sabe como vai ser o futuro?
Resultado apenas do nosso presente
O amor que te dedico
É o laço que ofereço

"Juntos no bom e no ruim"
(Melhor no bom do que no ruim,
mas no ruim também, com mãos dadas)
É o nosso felizes para sempre
E que esse amor sempre nos traga a recordação de felicidade

sábado, 26 de outubro de 2019

Intratexto

Não nós apeguemos às palavras, às formas. Este texto podia não ter pontuação. Estar escrito em inglês, italiano. Quiçá coreano ou em mandarim. O texto é o espaço que conecta duas pessoas. O texto pode ser perene, mas muda seu sentido como um rio muda seu percurso. Às vezes, o rio se junta com outros rios e concentra uma enorme quantidade de água doce, peixes, algas, moluscos, entre outros. Às vezes, o rio vira córrego, seca. Às vezes, o Rio é desviado à força, por castores ou humanos. O rio evapora, nutre e se mistura. O rio é este texto.















Não nós apeguemos à forma. A água é como um texto. Percorre o caminho dos tempos. Dura milésimos de segundos a milhares de anos. O texto nutre, é repassado e quando as pessoas sentem que é bom passar ele à frente, ele segue percorrendo seu caminho. Às vezes, evapora, se perde ou é perdido. O texto pode se conectar com outros pensamentos e mover montanhas de pessoas. Até desaguar, enfim.















Repito, não nos consumemos pelas formas. Sou o banqueiro anarquista e o alienista. Não às formas. Até as formas estarem conosco novamente. Aí, sim às formas.

"Se duas pessoas vem em direções opostas de uma estrada com um pão cada uma, e ao se cruzarem trocarem os pães, cada uma irá embora com um pão. Se duas pessoas vem em direções opostas de uma estrada com uma ideia cada e ao se cruzarem, trocarem as ideias, cada uma irá embora com duas idéias." Provérbio chinês

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Dedos

O tempo escorre por entre os meus dedos
Entre os meus dedos espaça o vento
Carregando o tempo por outros ventos

O tempo foge através de cada passo
O passo se apressa atrás do tempo
Deixando mais tempo para trás

A areia passa pelos dedos ao caminhar
Eu passo tempo com areia no calcanhar
O vento leva a areia através dos tempos

Eu fujo tentando ficar no mesmo lugar
Acaba o tempo, hora de zarpar
Por onde passo, o vento carrega meu tempo

As velas a me carregar
Me empurram pra longe do porto
Os ventos me empurram pra outros tempos

Os medos são levados pelo vento
Que traz outros tempos e outros medos
Eu lambuzo os dedos em outros tempos

O tempo escorre por entre os meus dedos
A navegação precisa, a vida imprecisa
Eu lambo os dedos, deixo o tempo me entranhar

O medo escorre por entre os meus dedos
Meus próprios ventos
Que me carregam através dos tempos

Obrigada, Pitty, por me mostrar seus medos.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Lobo do homem

Não precisamos mais da guerra
Já contamos com exércitos permanentes
Tomando conta de braços e mentes
Colônias são espólios de gente e terra
Controlando o mundo todo

Com uma mão, alimentamos o lobo
Que quer nos devorar
Cães de guarda a nos subjugar
Protegendo o capitalista
Que vem nos esmagar

¡O petróleo é o genocídio mundial!
¡O petróleo é o genocídio mundial!
O petróleo é a locomotiva do capital
Que vem nos atropelar

Com a outra mão, abrimos o caminho
Em busca da nossa liberdade
Damos a mão ao próximo
Unidos revelamos a verdade
Apenas nós produzimos a realidade
Que eles querem controlar

O anarquismo é a nova ordem mundial
O anarquismo é a nova ordem mundial
Ninguém vai nos reprimir
Quando pararmos as fábricas de destruição
¡Permanentemente!
¡Permanentemente!

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Pela porta

Abriram a porta. Eu passei sem esperar nada. Era uma porta simples que se abria de dentro de mim para o mundo. Precisava pegar o elevador e tocar a vida. O trabalho me aguardava.

Já tinha feito isso tantos dias... Nuns, chorava e saia feliz. Noutros, ria, sabendo que menti pra mim mesma o tempo todo. Hoje não, muitas verdades saíram cortando. As verdades buscam minha boca como um fluido cheio de fel e vontade, mesma sensação do intenso refluxo que me acorda de noite. Ao saírem, a mente se sente feliz ao repelir estes elementos tóxicos de que vai se alimentar inconscientemente mais vezes.

¡Saí pela porta, sim! Sem esperar por nada nem por ninguém. Na porta do elevador tinha alguém. Esperando. Buscava descer. Minha primeira sensação foi de que não descesse. Ficasse lá em cima, onde eu também estava. Devia lhe dar um motivo pra ficar. Minha cabeça pensava em vários, mas todos centrados em mim, na minha vontade. Meu desejo é que ficasse, se não ali comigo, pelo menos com meu telefone, talvez um dia ligasse pra mim, recebesse uma mensagem. Seria feliz, pelo menos no momento do contato. Seria um eterno aguardo.

Todo esse imaginário se desenvolvia enquanto o elevador chegava. Me disse boa tarde. Ou fui eu quem disse primeiro. "¡Boa tarde!" e desviei o olhar. ¿No que estaria pensando? Afinal, ¿no que eu estava pensando? Tenho laços de seda com outra pessoa. Tenho amarras de sisal feitas por mim mesma para restringir meus movimentos. Só que não as estava sentindo, só lembrei que existiam.

Mirava discretamente todos os detalhes que me emocionaram. Ela era mais alta do que eu. Um pescoço comprido exibia uma gargantilha preta enquanto os cabelos ondulados se mexiam como véus ao seu entorno. Um olhar macio centralizava o carinho da face de contorno oval. Aquele nariz podia causar arrepios quando estivesse na nuca alheia. A boca era vibrante, colorida e quieta. O cabelo escondia as orelhas que os brincos denunciavam a existência. O blusão era quase colant, comprido até a cintura, uma malha de cor próxima da que sua pele carregava, uma sensação nude, com alguns detalhes pretos. Nada era excessivo. Uma calça jeans pro dia-a-dia e um tênis simples. Era só mais um dia, com tarefas pra fazer, elevadores pra pegar.

Tudo isso enquanto entrávamos no elevador. O silêncio me agoniava, precisava dizer algo, qualquer coisa. Não havia nada a ser dito. Me convenci de que isso era suficiente. Ela estava ali, demonstrando que existia dentro de mim que não estava amarrado. Eu estava ali, apenas sentindo. Pensava como se sentisse. E o elevador descia. Nós duas ali, no elevador, descendo, com a companhia do silêncio, paredes frias de aço escovado, sem espelho. ¡Sem espelho! Porque não queriam que houvesse reflexão naquele espaço. Sem reflexão, sentia. A porta se abriu sem que ninguém pedisse. Eu saí pela porta sabendo que o instante acabara. Não queria ser inoportuna, era só mais um dia na vida, com tarefas pra fazer, elevadores pra pegar. O trabalho me aguardava.

Três minutos em uma sensação que não sentia há anos. Três minutos e tudo revirado, pra lá e pra cá, sem amarras. Os laços se mantém vivos porque me mantenho viva. Viva e sentindo e me abrindo. As escaras e rugas internas são o resultado da luta para quebrar a casca do ovo. A porta e a casca e a sensação de passar pela porta e quebrar a casca, mesmo que só um pedacinho, e ver a luz. A sensação de ter sentido, me sentido, sem amarras, por três minutos. Vou lembrar disso até furar a casca e sair. Obrigada, moça, por ter buscado o elevador ao mesmo tempo que eu.

sábado, 29 de junho de 2019

Preciso de um tempo

As coisas só são quando são. Só podem existir em um momento no tempo. E por isso, só existem fotos. A vida é um filme de rolo. Uma passagem de fotos em sequência. E só existe uma sequência. As outras sequências, ignoramos.

As coisas necessitam ser no tempo. E por isso, só são precisas no tempo. As coisas em mais de um tempo são como um borrão, quando se tira uma foto de algo em movimento.

Quando pensamos em pessoas, pensamos num ente, que se desenvolve, mas é sempre o mesmo ente. É o mesmo ente porque necessariamente carrega a própria história, sua sequência. Mas isto é a única coisa que o ente carrega entre dois tempos.

Por isso, quando olhamos pra uma pessoa e dizemos: ¡nossa, quanto tempo! Não estamos falando pra pessoa que já conhecíamos, mas pra pessoa que agora está. Quando escutamos sobre uma pessoa histórica, temos de entender quando ela é. Afinal, como Arnaldo Antunes ensina em sua música:
"todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu"

Se você pensa que sabe com quem está falando porque conhece seu passado, não percebe o quanto pode ter mudado. E você também.

domingo, 2 de junho de 2019

Desordem

Tu acredita que existe alguma ordem ou sentido que governa a existência e o devir das coisas, ou que há simplesmente uma deriva, o acaso e o caos que explicam os acontecimentos mais naturais?

E se as coisas apenas existirem? Se não houver qualquer sentido para tudo existir? Apenas aconteceu. O que aconteceu e como aconteceu e é o limite do nosso conhecimento. Afinal, qual o limite da razão de um cérebro de 80 bilhões de células? E do conjunto de mais de 7 bilhões de cérebros de mesmo tipo? É interessante como ter 80 bilhões de células no cérebro não explica a sua natureza. O cérebro, um dos acasos mais impressionantes da natureza não apenas é o que o compõe. A natureza das partículas subatômicas não é suficiente para entender o gosto da água.

Por indução, nem sempre a soma das partes garante todas as propriedades do todo. O todo pode ser algo que excede o sentido do que o compõe. Assim vão se abrindo os fractais do caos que é a natureza.

O mundo não é racional. Não sou descartiana. Não duvido dos sentidos, não concluo que o ser perfeito existe. Imaginar a perfeição e o ser perfeito só demostra o limite da nossa razão, que supõe conceber a perfeição. Sou uma intelectual. Uma cética. Sou atéia. Mas não é possível ser cética o tempo todo.

Só que este lado da linha é vazio. Vazio de sentidos e razões. É como se tivéssemos que criar o sentido a todo o momento, e isso é pesado. É dolorido. Cansa. A sociedade cria os sentidos para manter a coesão, e liberta o pensamento para outras buscas. As pessoas comungam razões e isso é o que garante a coesão das tribos. Não ver sentido é não conseguir criar laços. É ver os laços e não se sentir parte deles. Negar o motivo pode gerar exclusão social. As pessoas que negam os princípios que as sociedades criam são marginalizadas.

Disso, a única coisa que pode salvar é relação da minha consicência com meus sentidos. Preciso mais do que acreditar no que me dizem os sentidos. Preciso senti-los. Preciso deixar a mente sentir. Porque o mundo não é racional. E a mim, na arte, o que não é racional, por vezes, me encanta. O humor que me emociona é o absurdo. É ácido. O lugar comum me cansa. Talvez haja algo de positivo em não fixar os laços. Mesmo com todas estas condições, com frequência encontro pessoas com quem faço laços. Mais do que isso, com quem tenho interesse em fazer laços. Pessoas com quem eu mantenho meus laços.

Preciso de arte para viver. O sentido que podemos criar para nossas vidas é a arte, pois a arte é sentir.


Disclaimer: Esse é apenas um esboço incompleto e desordenado. Como os limites da razão humana.

sábado, 9 de março de 2019

É fogo, amigo

Cabeça abaixada em busca de solução
Apenas quando os tiros vêm
A violência é o domínio da força
A força não anda de trem
Cabeça ao alto e armas na mão
As pedras não param quem
Não tem nada a perder

Temos apenas o dia de hoje
Para mudar o dia de amanhã
Temos apenas o dia de hoje
Para mudar como vivemos
E apenas no dia de hoje
A revolução vale a pena

Vivo sem saber até quando
Ficarei viva de joelhos
Me lamentando as oportunidades perdidas
Mas a revolução não se faz sozinha
E não há pra onde correr

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Davos

Em uma terra distante
Cercada por águas sujas
Inacessível aos mortais
O monte Olimpo se erguia

O monte fora erguido para deleite dos deuses
Se reuniam periodicamente
Seus afazeres eram decidir
Executar a sangue frio
Mais dores nos humanos aflitos
Que ao pé e ao cabo,
Lhes ofereciam infinitas oferendas

Vez em quando, semi-deuses
Como que pra provar que tinham direito
Aos pequenos poderes concedidos
Depois de conseguirem subir a humanamente inacessível montanha
Voltavam para a terra e para os infernos
Com 12 missões incríveis

Algumas tarefas eram inglórias
Tinham de descabeçar a previdência
Renegar o direito a renda
Financiar a guerra
Administrar a venda
Do pouco que os humanos ainda tinham

Os deuses querem ser donos dos destinos
Os deuses querem o poder do destruidor
Os videntes diziam apenas as verdades inventadas
E os oráculos ficavam cada vez mais poluídos com as constantes mentiras

Quando Sócrates se rebelou e renegou o poder dos deuses
Denununciou o poder do Olimpo
Foi morto e sacrificado
Através da histeria coletiva
Que os deuses incitaram nos humanos

E 2400 anos depois, ninguém mais conhece os deuses
Mas todos lembram de Sócrates
Os deuses foram mortos
Sócrates eternizado

No momento que o Olimpo domina a população
Os humanos têm de lembrar
Que apenas a eles, lhes foi dado o poder de decidir os destinos
E que apenas eles podem escolher pra quem entregar os destinos

Cortem-lhe a cabeça
Ponham uma cabeça de dinossauro
No lugar

sábado, 29 de dezembro de 2018

Círculos

Existem certos círculos que delimitam a realidade social. Os campos discutem, mas a ascensão da internet permite que outsiders tenham legitimidade pelo poder de influência. Essa é a própria discussão da democracia na política: será que apenas porque você convenceu mais pessoas a te escolher - depois de ser permitido pelas elites políticas -, você é de fato capaz e ético para liderar os interesses do conjunto de milhões de pessoas, os recursos de milhões de hectares de terra, os direitos e deveres?

A democracia não é um pacto que permite suicídio coletivo. Este blog sempre foi um espaço para a poesia, por que vejo muita beleza na arte da palavra, principal da palavra escrita. Mas os textos são apenas uma organização de símbolos que carregam significados sociais que são apropriados pelos indivíduos gerando sensações e sentidos internos. Assim, a própria existência destes símbolos organizados é a necessidade de existência do significado. Sem significado, eles não existem.

As pichações são indecifráveis pra quem pensa com a estética média e burguesa, mas as gangues as percebem de forma muito clara. Cada pichação é uma tentativa de deixar uma mensagem. Muitas vezes são: eu consegui chegar aqui.

Estes poemas giram em torno dos dilemas que eu sinto e vão significar apenas para os que sentem coisas parecidas. Muitas vezes passam pela negação de valores sociais hegemônicos, mas a estética é muito próxima da utilizada pelos mesmos valores. Isso demonstra de onde vim: uma estética burguesa e média. Por isso, é difícil que deixem de ser medíocres. Se um dia forem lugar comum para a sociedade é por que esta emissora foi colocada em posições de poder. (¡Oxalá não sejam comparados com os terríveis marimbondos de fogo!)

E girando em círculos, há mais de década estes escritos marcam e demarcam quem eu fui no tempo. Minhas consistências e metamorfoses. Nas entrelinhas, existe uma autobiografia poética.

Outsiders do mundo, destruí-vos. São apenas emanações dos erros humanos que foram filtrados pela ciência. Seu sucesso é mero acaso probabilístico.

A face do destruidor.

domingo, 14 de outubro de 2018

Onde

Pra onde ir?
Só há um lugar no mundo
O mundo
Fugir do mundo é fugir da existência humana
Cobrimos cada canto do planeta com nossa existência
Somos em toda a parte
Nunca seremos de todo

Todos os lugares são iguais
Alguns caixotes de cimento diferente de outros
Mas caixotes para macacos morarem dentro
Carregam água limpa, alimentos,
energias e outros fluidos

Eu sou uma caçadora
Em um lugar escondido
Uma caçadora em busca da caça

Eu sou a caça
Num lugar proibido
Uma caça em busca da caçadora

O duelo final é um só
Um dueto
Em todos os lugares do mundo
Do meu mundo
Da minha terra
Do meu ventre
Do meu ser
Que nutre a caça
E a caçadora que busca
Não se tornar presa

Presa dentro um corpo moribundo
De um planeta fúnebre
Em que o ódio instrumentaliza a violência
O medo rega a paranóia
De um corvo depenando uma coruja

Não existe lugar no mundo
Para onde se possa ir
Mais longe do que se está
Em si

terça-feira, 8 de maio de 2018

Uma ode à loucura

A loucura é boa
A loucura enlouquece e se torna sã
A vida gira, isso é loucura
Milhares de fios entrelaçados sem sentido algum
Isso é loucura

A sociedade alternativa? Loucura
A lei? Mais ainda
Estou louca é viver
Viva enlouqueço os outros

As formas desfiguradas tomam conta das ruas
As linhas retas são uma ilusão
O clássico é um mito

Loucura de blusão no sol
Loucura pipocando
Loucura pela pela rua

A morte é o fim da loucura
O fim da loucura é morte
Loucura por dentro
Loucura por fora
Loucura em flautas

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Pop

Bolhas de sabão pelo ar
Crianças correm em minha volta
O sol ofusca minha visão
O vento alisa meu rosto

É tarde, tudo fora de compasso
Anoitece, o ritmo cresce
Pede o balanço e o passito
Carinho e charme a me esquentar

O sabor é doce
O resultado é o ritmo
O ritmo é me soltar

Você me segura no ar
Meu coração pára
POP, sinto estourar


Boas festas.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Rio

Mais um Silva me deu oi hoje na rua. Talvez tivesse comido. Não penso que dormiu, não parecia relaxado, era visível que ainda vivia o mesmo dia de ontem. O sinal fechou, meu olhar também. Prédios gigantes se amontoavam vazios, sumindo sem luz na noite escura. O morro se acendia como uma vela de oração.

Cabeças baixas não me percebiam enquanto dividíamos a mesma calçada. O vendedor na esquina me cumprimenta e me pergunta ser levarei o pão. Hoje não, não mesmo. Trabalho por honestidade, mas o salário não cai pela injusta falta dela. Mais de 500 anos pro Brasil descobrir Cabral e tudo o que nos levou.

Volto em Janeiro. O Rio não será o mesmo, conquanto eu também não o seja. Nas suas águas, abriu-se o mar vermelho e os escravos tentaram fugir quando já era tarde demais. Restou-lhes aguardar a terra prometida: uma cidade maravilhosa.

Será que o Maracanã durará mais do que o Coliseu? Nero sempre me deixa em dúvida. Um pedaço de mim aqui fica.

Uma pequena homenagem a Bob Rum.

sábado, 25 de março de 2017

Essencialmente

Existe alguma essência no que somos? Se existe, ela é material, ligada a nossos genes, nossa expressão deles, nas nossas características fenotípicas? Existe alguma essência em nosso psicológico, algo que nos constitua em nossas atitudes, nossas reações, nossas vontades, nosso imaginário, nosso raciocínio? Existe alguma essência por crescermos em algum lugar, termos certos tipos de pais, irmos a certos colégios e fazermos certos tipos de amigos e inimigos? Existe alguma essência na vida, que a separe do que não tem vida? Quer dizer, um corpo morto é tão inanimado quanto uma pedra ou as ondas do mar.

E se a essência não for importante, o que te constitui em algo individual, em algo único? Se não somos algo único, não temos qualquer importância. Ser algo único é ser carregado de significado. O significado pode ser interno, mas também pode ser socialmente atribuído. Uma relação simbiótica se constrói para o exercício do nosso significado. Nosso significado não existe se não pode ser exercido, como um corpo morto.

O sentido da vida é a busca do significado incessantemente, posto que quando cessa, cessa a vida também. Nossa essência não é imbuída de qualquer significado. Nossa gênese, nossa temporalidade, a efemeridade de nossos atos são parte do nosso veículo: o corpo. O corpo é o meio pelo qual se constitui a consciência e através dela o significado. Quando a consciência está confusa, é difícil ver o significado. Quando ela está ausente, não somos nem mesmo responsáveis pelos nossos atos. A busca da religião é a busca de um propósito. A busca de grupos identitários é a busca de um significado social.

Essencialmente, nascemos mortos e ao crescer, criamos a nossa vida. A senciência não é consciência. A consciência é capaz de distinguir e separar a nossa existência de outras. A consciência percebe a morte. A consciência apercebe a morte. A morte é de onde viemos e para onde vamos. A senciência é apenas um instrumento para verificar nossas vontades, as necessidades de um organismo vivo. É fundamental para a existência da consciência, sem sê-la de fato.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Campos de Morango

A consciência é o que define a nossa essência humana. É ir além do mundo ao redor ou do outro. É perceber a existência inexorável de ser. Não é possível não ser. Somos consciência, que está atrelada diretamente a um órgão, o cérebro.

Nossa existência está confinada ao nosso corpo. No entanto, a falência de diversos orgãos não caracteriza o fim humano. A falta de movimento nos membros, o descompasso dos rins, a cegueira, o coração descompassado. Tudo isso não impede a tua existência humana. O que impede é a falta de funcionamento do cérebro pra permitir uma consciência apurada.

Um cérebro que não esteja funcional impede a normalidade de nossa essência. Depressão, esquizofrenia, mania, ansiedade são doenças que produzem um sofrimento contínuo e de baixíssima intervenção.

A nossa existência efêmera sempre teve sentença de morte. Qual a diferença entre escolher a hora de morrer e morrer sem escolher? Nenhuma. Não existe nada depois da morte. Se todos estamos mortos, porque continuar esta batalha para continuar vivos?

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Vem, vamos embora

"Vem, vambora
Entre por esta porta agora
E diga que me adora
Você tem meia-hora
Pra mudar a minha vida"

Eu sinto a tua falta
A tua falta em mim
O teu carinho
O teu calor

Eu sinto a tua falta
A falta de tu entrar pela porta dos meus olhos
E dizer:
VAMOS EMBORA

A tua atitude, o teu carisma
O teu jeito de me cativar
De me escolher

É clichê
Mas eu sinto teu cheiro no travesseiro
E me abraço nele

Tu tinha um jeito especial de me fazer sentir viva
E eu te escolhi por isso
Eu quero te ver de novo
Eu quero aquela mágica me enebriando

Vamos recomeçar?
Não quero perder meu tempo
Muito menos o teu
Eu quero sair
Não quero mais ficar aqui

Ficar em mim é insuportável
Eu preciso da tua atenção

O pranto me deixa a cara formingando
Essa sensação horrível
De o coração sair pela boca
E a cabeça fica zunindo
As mãos batem com força no peito
Eu não me sinto em mim

A sensação de não estar aqui é muito forte
A respiração ofegante é a única coisa que me prende
No aqui e no agora
Eu me sinto
Falta me sentir viva

Fim.

Viva Adriana Calcanhoto.

domingo, 4 de setembro de 2016

Buffet livre

É um pedaço em fogo
É politica que arde
É grito e sufoco
É pouco

Nada vai acontecer
Nada
Talvez mudem as estações
O salário continua sumindo
O escravo sofrendo

Vários mundos em um só
Vem se desfazendo
Até virar pó

Impedimento é um prato que se come frio
E essa terra esfriou há bastante tempo

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Não me deixe só

Não me deixe apenas comigo mesma
Eu sou minha pior inimiga
Me dá frio na barriga
Ficar só à mesa

Eu caminho sozinha no escuro
Não é possível ver nada
Só sinto a mim, no vácuo
Vazia e com a respiração ofegante

Penso que me movo
Mas estou no mesmo lugar
Perdida, cansada
Me canso de vagar

Meu pedido é simples
Não me deixe só
Eu sou um pesadelo
Você me leva pra um lugar melhor

Não nos deixe só
O mundo será sempre pior
Sem a tua voz
Teu odor
Teu carinho
Nosso amor

A solidão existe
Na morte, no espaço
Na minha cabeça e no meu abraço
A solidão
E só

terça-feira, 3 de maio de 2016

Sem espaço

Um mundo pequeno, infinitamente pequeno, tomou conta de mim. Um ponto no espaço revela exatamente que eu não tenho espaço. O ponto se repete, se ilumina e se apaga todas as vezes que algum dos seres nascem e morrem. O ponto não é. E não somos nós, mais do que um ponto. Um ponto em movimento no espaço imenso, nos despedaçando em uma quantidade ínfima de tempo.

Sentir é uma ilusão. Nada pode completar algo tão pequeno. Nada pode ser onde nada pode estar. Hoje, um ponto, uma luz. Amanhã, sem ponto, sem luz.

E na imensidão do espaço-tempo, os pontos se unem e se separam numa dança de um tempo inobservável. Tantos pontos quanto se possa imaginar. A consciência acessa o ponto, o ponto deixa de ser objetivo e passa a ser subjetivo. No entanto, um ponto observado, é uma realidade dentre as muitas que ele pode ou não ser.

O ponto se esvai no caos da cidade, na babel da internet. O ponto que eu sou, o ponto sou eu. O ponto, na ponta. O ponto apontando. O ponto sem eu. O não-ponto.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Tecnologia

Pedras, lascas, varetas de fogo
As pessoas polidas sempre assassinas
Plantações, currais, aquedutos
Ferro, bronze e guerras bonitas

Sanguinários, os olhos vermelhos enchem os campos
De batalha, se fundem os corações e os leões
Da morte, vivem os moribundos e os anjos
Do forte, choram os pobres e os vilões

Os tiros, as bombas, o calor dos infernos
A fome, de perto, os urubus, de longe
Despedaçam minha consciência a cada clique

Para o sofrimento dos outros
Na guerra é a gente que cria,
Por necessidade, a tecnologia

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Plural ou nada

Tem gente que diz que a melhor defesa é um bom ataque. Tem gente que diz que o melhor ataque é uma boa defesa.

Dissolver o ego não é perder a própria identidade. Nossa existência num corpo, muitas existências num corpo. Até hoje só pudemos descobrir a existência a partir da noção de consciência. A consciência da existência nos faz perceber não apenas os outros, mas a nós.

Pequenos fragmentos de mim. Vários eus num mesmo corpo, sem controle um sobre o outro. Quando brigam entre si, nós choramos. Um pedaço cai, outro também. Até que não sobra nenhum e eu fico apática. Cheia de energia, inventiva, lógica, ambiciosa, pessimista, deprimida, suicida, dona do mundo.

O melhor de mim e o pior de mim, em mim. Perder o controle é tão fácil.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Meu amigo secreto

- Deixa estar. Disse ela, sem convicção.

A tragédia já estava pronta, não havia plano B. Era só esperar acontecer. Olhava pro mar procurando um último suspiro de vida. Um urubu procurava peixes mortos entre o lixo acumulado na margem da praia. Um vento triste sopra em seus ouvidos. A morte se anunciava nos jornais como um acontecimento da natureza, no entanto, ela sabia que não era assim.

Caipora estava ocupada tentando proteger outros seres na floresta. Os homens já não estavam por perto. Oxum chorava triste à margem do rio, sentia como se tivessem matado mais uma parte de si. Mais triste ficava por não ter sequer uma lágrima doce. Tentava avisar Iemanjá, mas já era tarde, só podia esperar acontecer. Não existe oferenda que resolva quando se ataca um orixá assim. De um lado ao outro do oceano, quem passa pelo bojador gera cada vez mais dor. Iara, por que não vem buscá-los? Xangô, anuncia tua justiça! Da tua pedreira construiram a destruição, a nós resta a rendição?

O mar azul hoje é um mar vermelho. Um rio morto! Pavimentado. Sem vida, sem ar, sem paz. A guerra foi declarada contra todos os seres. O karma vem e vai alimentado pelas ondas do samsara. A velhice e a doença atormentando a todos. Como é possível olhar para isto, se sentir responsável e não fazer nada?

Ela continuava imóvel assistindo a tudo com o coração parado. Olhos e ouvidos fechados, tentando não sentir o mundo. O mundo era ela mesma. O mundo que ela não fez, mas que dela fazia morte.

Cadáver sobre cadáver. Morrem todos, morre tudo, morre quem mereceu e quem não merecia. Morrem na guerra e na paz, com mais sofrimento na guerra. A morte não alivia.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Pequeno

O pequeno
Piccolo momento
Niños y niñas
Un bâton

O chão gira
O pão cresce
A água desce
O fogo, pira
O vento mexe

Aqui dentro
Só, pequeno
Grande vai saindo

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Estou orgulhosa de mim

Estou calma. Estou em paz. No meu mundo interno, cessou a tormenta. Eu vejo o passado, vejo o presente. Não é sobre onde eu cheguei. É sobre quem eu me tornei. Eu me vejo em mim. Funcional, bonita, normal. Cheguei ao bojador. O sofrimento é um sentimento distante, inconstante, vazio.

Se sinto dor? Sim! Estou viva! Cada pedaço real de mim é um pedaço na minha consciência. Ter adequado a realidade não me trouxe a fórmula da felicidade. No entanto, me alinho comigo mesma. Não grito mais pela dor lancinante que emanava de um pedaço para todos os outros pedindo para desligar a vida. Nem mesmo a sinto. Me sinto bem, é como se após limpar a casa e trocar alguns móveis, minha casa voltasse a ser cômoda, confortável e sadia. Uma casa agradável não é a fórmula da felicidade, mas pode te permitir viver melhor e com menos preocupações.

Tenho orgulho de mim. Vim, vivi e venci. Anos para entender afinal o que acontecia comigo - e ainda restam outras coisas a entender - e poder ir atrás do que me faz bem. Eu me sinto bem por ter seguido o caminho, mesmo que me afligissem o medo, as distrações, as confusões, muitas vezes sozinha. Eu trilhei o caminho e construí a minha estrada. Tenho orgulho de ter caído tantas vezes, achando que ficaria no chão para sempre, e ter me levando, limpado as lágrimas e seguido em frente.

Eu sou quem eu sou. Sou quem eu fiz de mim. Agradeço a todos pelas contribuições e não me ressinto de todos que trouxeram obstáculos. Todos vocês são parte do caminho. E o que deixaram comigo é parte de mim.

domingo, 4 de outubro de 2015

I have a feeling

And there I was, looking to the traffic through the window. It's the same feeling always: emptiness. There is no meaning in anything. Like your life is always a heavy stone to others to carry that is a threat to other people's life. So, why should I continue? There is no reason to feel like this way forever. If you doesn't help, just don't mess up.

And there was the raining. And a bird, so many birds flying around. There is changing in everything. Our nature is impermanence. So is mine. Then, I felt complete. Complete, cause nothing can complete me, and I was full of nothing.

And there was traffic jam, people overreacting about losing a time they would only turn off. They cannot feel what is inside them and became angry. They cannot even fell themselves, how could they fell the others? Some says that our culture is selfish. I don't have the same view. Cause people do not fell their selfes! They don't control their emotions, fellings, thoughts, speeches and actions. There is nothing selfish in consumism, it's just a way to fill up our emptyness.

Look for what differs you from anothers? Nothing. You are the same. We are the same. We are all looking for happiness and avoiding suffering. Why to continue suffering? Life is only a thing that our minds can know by our brain. Our highly evolutioned brain. It only exists in our body, in our perception of the world.

So here I am, rocking myself up to the mountain, like Sisifo. Every day is another to keep pushing myself up from the down of the mountain. God, I wish I could change the mountain! God, I wish I could change me! Me and the mountain are the same, and so are you.

Can you feel it? I do.

"I only know that I know nothing, and this make aware to look for wisdom and knowledge." (Adapted from Socrates speech attributed by Plato).

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Quem é você?

Quem é o trabalhador? Quem é você?
Quem é do povo negro? Quem é você?
Quem manda no Estado? Quem manda em você?
Quem casa legalmente? Quem pode expressar afeto por você?
Quem existe pra este mundo? Onde está você?

Nos defendemos tanto sem saber
Quem de fato pode nos atacar
Na selva de pedra, todo dia é uma batalha
Só a morte é o fim da guerra

Quem sofre por seu gênero? Quem faz você sofrer?
Quem não pode acessar a sociedade por conta de sua deficiência? O que faz você?
Quem é internado por tentativa de suicídio? Quem cuida de você?
Quem é você? Será que sabe ler? Conhece algum analfabeto funcional?

Nos defendemos tanto sem saber
Quem de fato pode nos atacar
Na selva de pedra, todo dia é uma batalha
Só a morte é o fim da guerra

Vergonha, auto-humilhação, auto-mutilação
Definhando por não comer ao ver um corpo dismófico? Quem é você?
Falsa humildade, vaidade, brinca com as necessidades alheias
Quem é você? Você atravessaria o mundo pra alterar o que a natureza fez de você?

Nos atacamos tanto sem saber
Por que é necessário matar?
Homem-primata, destruição tecnológica
Mata árvore, mata boi, mata Atlântica
Mata o outro sem nem olhar pro lado
O próximo é você?
Pelo bolso, mata povos inteiros
Só falta querer fazer o mesmo no céu

Quem compra sua comida? Quem a planta pra você?
Bebida suja na natureza limpa, melhor açúcar e sal com gás
Você tem sede de quê? Você bebe o sangue de quem?
Quem se diverte por termos diferenças?
Qual a arte de rir de quem está marginalizado?

Nos defendemos tanto sem saber que já sabemos...

Legião e Titãs

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Matemática

Todos somos produtos
A ordem dos produtos não altera o resultado
A soma de todos é 1
Não cabe diminuir, menosprezar
Toda vida é sagrada
Dividir para conquistar?
Unir para completar!

O mundo natural, amoral
Nos mostra apenas o que é real
O racional que nos guia aos imaginários
Mostra como somos complexos
E como por eles nos tornamos irracionais por inteiro

O ábaco dos anos não é programado
Tal qual um relógio de areia
A teia do tempo se curva no espaço
E tudo o que sabemos se torna irrelevante
Vazio como um instante fora do universo
O tempo é o mais sagrado deus humano

Operando a vida, o médico entra em ação
Suas mãos robóticas e o ambiente esterilizado
O fôlego paralisando, escuridão...
Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma
Um papel e uma cirurgia me renovam
A morte e a vida em uma superposição de estados
A incompreensão dos outros é tão forte
Quanto a metáfora do gato quântico

Sigo sendo eu mesma integralmente
Infinitesimal nesse mundo contínuo
Me encontrar pelo caminho
Sem atalhos, sem derivar por outros caminhos
Sei que vou encontrar resistências
Vou ser induzida a comportamentos negativos
Mas sei também que sou capaz de poder ajudar todos os seres
A se sentirem e a serem mais positivos

A ciência e a arte me emocionam
Ondas que reverberam por todas as selvas
Me enchem os ouvidos de felicidade
O canto que vem das pedras
Ou da existência pacífica dos outros ambientes
A luz que me ilumina, faça lua ou faça sol
Os gostos e cheiros que se espalham dentro do meu corpo
Em cada fase da vida
Mexem com frequência no meu coração

Força, vai dar tudo certo
Basta um impulso para acelerar
Depois disso basta ser constante
O que está em movimento continuará no movimento
Internamente, gira a bússola
É hora de me mudar

A equação da vida
É um eterno caminhar