sexta-feira, 4 de dezembro de 2020
Quartzo
domingo, 1 de novembro de 2020
Íris
sábado, 3 de outubro de 2020
Entranhas
domingo, 20 de setembro de 2020
Interactive love
sexta-feira, 28 de agosto de 2020
Espelho
sábado, 22 de agosto de 2020
Futuro em chamas
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
Tudo é diferente no presente
Olho pro passado e vejo tanta dor e aprendizado. Hoje sinto tanta potência com capacidade de existência. Desde o nascimento, marca de início da vida, vou chegando a trinta voltas ao sol. Nosso ritmo é natural, num tempo fixo para nossas capacidades de percepção.
Tanto acumulei em mim, em vários campos do conhecimento. Se penso e existo, tenho tantas existências. E vou as aproximando cada vez mais no mesmo ser. Não precisam ser a mesma coisa, mas talvez ser na mesma pessoa, das diversas personas que me compõe. Como ser multidisciplinar nesse mundo cheio de caixinhas?
Posso ser radicalmente progressista, mas sem o senso de destruição? A desconstrução só serve para construções novas que devem ser destruídas novamente após isso. A arte descreve toda essa imaterialidade que a língua não consegue expressar. Preciso de origem pra saber quem eu sou, ou sou conforme me fizeram e me fiz?
Apesar de tudo, amo como a despretensão é capaz de gestar coisas tão complexas que podem de fato aperceber o futuro. A vontade é o valor que carrega meus sentidos e conflita com a razão frequentemente. E sou este espaço onde todas as forças disputam um lugar para viver.
Vivo. ¡Viva! E o passado é algo que não me cabe mais, em que não sou mais, já fui. Estou aqui precisando de roupas novas, de idéias para frente, de sentidos construtores de um novo futuro. O velho futuro fica no passado. O futuro do pretérito é algo que não me cabe mais.
Vou ser mais, onde posso ser mais, onde quero ser mais. E só eu posso me parar. Dos 30 aos 40, em 10 anos. O futuro é onde posso estar.
Obrigada, Belchior. "O passado é uma roupa que não nos serve mais"
"Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais"
O álcool que permite que as idéias desconexas sejam um mesmo espaço compõe este poema e essas reflexões.
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Pouco
quinta-feira, 25 de junho de 2020
Chagas
sexta-feira, 12 de junho de 2020
Ponto-e-vírgula
sexta-feira, 8 de maio de 2020
Roxo
A casca fina, rugosa
Sabor doce, sou cítrica
De cor escura, brilhosa
Do pé, você me colheu
Escorreguei, ia ao chão
De pé, me arremeteu
Recolhida, fui ao teu coração
Era eu, pequenina nas tuas mãos
Lágrimas-brasa, desejo, medo
Os pensamentos que me dizem não
Amar quem não pode ser desejada
Na confusão dos teus sentimentos
Sou fruto proibido, renegada
Inspirada na Alex, da Guilhermina Velicastelo. "Parece amora, parece amor", Karina Buhr. Cazuza sabia a dificuldade de ter um amor tranquilo. 8, 7, 10.
domingo, 19 de abril de 2020
Óbvio
Fazia dias que não tínhamos um tempo assim, pra nós dois. Nos últimos meses, era sempre um ir e vir desmedido, automático, congelante. Todos os dias pareciam iguais, e eu ali, sendo igual. Ele ia e vinha sendo igual e nós iguais em dias iguais. De vez em quando me pegava pensando: afinal, para quê? A onde estamos indo? Por que estamos juntos? Que cansaço. Tão logo a pergunta vinha, ele voltava perguntando sobre o que iriámos jantar naquela noite. Que cansaço. Além de resolver as minhas dúvidas, tinha de resolver as dele. E nenhuma tinha resposta, não era possível pensar em tudo, não é possível responder tudo. Talvez eu só não quisesse mais mesmo, seja lá o que fosse que eu não quisesse.
Ao acordar neste sábado, só sentia uma imensa letargia. A semana foi tão pesada que é como se um caminhão tivesse passado por cima dos meus sonhos. Não podia ser mãe. Não podia gerar o futuro. Isso me martelava. Não porque fosse necessário ser mãe, blasfêmia. Só que é como se a força da criação tivesse se extinguido em mim. De repente, só podia conceber o presente. O desafio era imenso. Uma vida esperando pelo futuro, pelo próximo passo. Ir carregando o presente como se fosse uma necessidade do futuro, só que não havia mais futuro. Só havia presente.
O que poderia fazer com um presente que se repetia à espera de um futuro? Ele parecia ter ignorado. Em nada havia sido afetado. E o que era pior, havia me ignorado, não percebia o que se passava. Já era robótico há tanto tempo que eu já sabia seus horários, suas perguntas, suas piadas sem graça tentando melhorar isso, a falta de trato com qualquer coisa que não fosse o trabalho. Naquele momento, só via uma máquina de engrenagens grossas e toscas. O que eu estava fazendo ali mesmo? Como pude me deixar levar pelo destino social? Só a beira do abismo do sonho coletivo para o pesadelo para me fazer acordar.
Todo o desejo de futuro tinha de passar para desejo de presente. Agora, neste instante, não depois. Agora! Sábado! Isso mesmo, neste sábado. Só que sábado foi quando as energias se esgotaram. Estava ali, imóvel na cama. Deitada de barriga pra cima, pernas cruzadas, só conseguia olhar o teto branco e me sentir assim, em branco. Uma folha amassada sem nada escrito. Nada me completava, tudo me era indiferente. Blur. Não percebi que horas ele levantou, nem pensava no que foi fazer da sua vida robótica. Era a sua vida, não a minha. A vida dele era outra forma de futuro que eu não podia mais carregar. Afinal, como me deixei levar pela corrente coletiva de ir carregando tantas coisas sem conseguir carregar mais a mim mesma? Fui caindo aos pedaços pelo caminho, só carregando e carregando e carregando. Até que acabou o futuro.
Devo ter passado horas assim, sem conceber nada. O mundo era um vazio completo. Até que ele veio devagarinho conversar comigo. Sentou na beirada da cama enquanto eu estava na diagonal ignorando qualquer outra necessidade.
- Josi. A gente precisa conversar sobre isso. Não sei bem como começar, na verdade... nem devo ser eu a começar. Eu preciso saber, como você está?
- Ai, Paulo. Faz quatro dias. Quatro dias que nem eu sei como estou. Eu não consigo mais comer direito, minha cabeça dói. É um desespero. É como se algo dentro de mim tivesse se quebrado. E o que você fez por mim? Nesses dias que eu mais precisava de atenção, de carinho, tu seguiu tua vida. Sinceramente, achei que você nunca ia perguntar como eu estava. Estou assim, sentindo o amargor de te ter aqui do meu lado.
Paulo ficou em silêncio. Seu semblante parecia calmo e isso me irritava muito. Que homem desgraçado! Eu podia estar sangrando por dentro e ele só queria saber se eu podia acordar ele na hora certa de manhã. Depois de alguns minutos, a angústia voltou e eu comecei a chorar.
- Amor, a gente precisava deste momento. Sabia que não adiantava falar contigo antes, a explosão seria muito maior e eu não ia ter como ajudar. Queria te deixar claro que tu pode apagar completamente minhas expectativas, pensa apenas em ti. Sei, nós já falamos como ia ser legal ter uma filha, imaginamos brincando com ela várias vezes, ensinando a comer, a andar. Lembra que já tínhamos idéia até de onde colocar ela pra estudar? Como podia se virar na escola, se proteger, fazer amigos. Isso tudo pode ser muito lindo, mas é só nossa idealização. Toda a parte de não dormir direito por meses, ficar acordados esperando voltar de madrugada, sofrer pelas feridas que sofresse. Sente que era apenas uma ilusão.
Do choro, comecei a me acalmar. A respiração ofegante ia se reduzindo em pulso. Meus olhos vermelhos fitavam ele com esperança e ansiedade.
-Existem tantos futuros diferentes. Podemos ser viajantes e conhecer lugares que nem sabemos que existem. Ou ter uma vida pacata em uma casa aconchegante, quem sabe um jardim com tomates? Olha que legal. A gente pode ser tanta coisa, e eu só tenho uma grande certeza sobre isso. Eu quero ser muita coisa junto de ti! Eu sei que eu tenho sido meio ausente e poderia ficar procurando justificativas até a gente cansar desta conversa e seguir como era antes. Mas não é isso o que eu quero!
Paulo veio ao meu encontro e me abraçou. Meus braços dormentes nem conseguiram reagir a tempo. O calor da sua aproximação contrastava com os raios de sol que batiam no móvel amarelo e chegavam no teto. Não sei se era a vista embaçada, só sei que o teto não era mais branco. Como se meu corpo tivesse desperto, abracei ele com toda a força. Ergui minhas pernas e enlacei em volta dele. Não havia mais como me tirar dali. Do presente, daquele momento. Era a única coisa que eu estava sentido. Que se dane o que a gente podia vir a ser, eu quero ser agora, e agora é este abraço.
Ainda conversamos mais um pouco, com mais calma. Ouvi também como ele estava se sentindo com isso tudo. Um laço de amizade que vinha definhando voltou a ser tecido. Estávamos ali, no presente, juntos. Viemos dar uma volta de tarde. De tarde, em frente ao rio, vendo o vento nas águas, sentindo o sol na pele. Sua barba no meu pescoço tinha tantos significados, e agora mais este, a sensação do presente.
Diários metafóricos de uma quarentena postergante. As tubas me disseram que estão grávidas. "Se é de metáforas que se vive a vida, tente outra vez!". É raulzito, eu lembro de cor, só me falta aprender.
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Somos quem fazemos de nós mesmos
Do que se faz sozinho, individual
Se propaga aos outros, no social
Se dissipa nos sonhos, ideal
Do que faço contigo, te juro
Do que erro repetido, me multo
Quero conhecer o infinito, me frustro
Vocês fingindo, lhes julgo
Sonhos que queremos ter
Somos quem, de nós, queremos ver
E fazemos
Somos quem podemos fazer
Dos sonhos que podemos ter
E viveremos
Mais uma vez os Engenheiros do Hawaii me acompanham. E só uma pitadinha de Sartre.
sábado, 29 de fevereiro de 2020
Só mais um sábado
Começo a almoçar e sinto que o arroz ficou muito salgado. Gelo mais água, tomo um suco de limão muito ácido. A garganta ferve, nenhum áudio sai. O silêncio é rei, mais um dia se repete. Existe um pouco de aflição na calma. O nada a fazer é a falta de realizar o querer. O desejo e a vontade, imersas no tudo que me rodeia. Livros que ainda não li, indicações musicais esperando na playlist. Esse é o querer do meu eu ideal, só que eu continuo aqui, querendo outra coisa.
Resolvo descer e dar uma volta no quarteirão. A temperatura amena como a minha vida, o balanço das folhas douradas das árvores no chão enquanto se esfarelam nos ciclos da vida. Um cachorro começa a latir. Uma mariposa levanta da parede e se despede num balançar de asas. Meus passos são curtos e lentos. Todas as vias são caminhos suficientes para quem não sabe para onde ir.
Um vizinho que só conheço de rosto está regando a grama do jardim. Nos cumprimentamos, sorrisos abertos para aqueles a quem não conhecemos, mas reconhecemos. Se o sorriso é espaço público, o olhar é espaço privado. Ninguém desvia a boca, legível até para os menos treinados. No entanto, com frequência se desvia o olhar.
O arrepio, a vontade, a tarde ardia. Era uma espera. Algumas coisas são questão de tempo. O silêncio é o espaço da fala. A solidão é o campo da estima. Eu só queria mudar, mais um dia que se repete. Meu corpo é a parca expressão de mim. Sou muito muito mais do que meus ossos. O que penso, o que escrevo, o que faço, com quem me relaciono, quem influencio. Se uma parte da minha carne já não está em mim, outra por ali já preenche. O vazio e as bordas são muito mais adequadas do que formas pontiagudas. Essa sou eu, em solidão. As pessoas que eu sinto e como me sinto nelas são situações únicas, quando são.
A solidão não é um espaço nulo, nem um colapso. É só a falta de conexão que perdura em cada interação. Não é falta de fogo, são apenas convenções sociais. Cada corpo é coagido a ocupar apenas certas posições, mas eu não aceito isso. A solidão não é uma escolha, mas um acontecimento social. Os afetos vêm de laços sanguíneos, boas amizades, alguns conhecidos, e só.
Um sábado se repete enquanto eu me repito. O sábado se repete porque a sociedade se repete. Somos pequenas alterações das gerações anteriores, e isso já faz muito tempo. No portão, a chave é inserida e destrava a entrada. Sento no sofá e vejo o tempo passar com algumas músicas na minha cabeça. Hoje a janta vai ser com vinho - a água gelada vai ficar para amanhã cedo -, beringelas à milanesa fritas sem óleo, arroz. Assistir alguma série para conhecer algumas histórias falsas novas, acompanhada de algumas azeitonas. Logo, logo, não será mais sábado.
Kim Ki-young e Pitty me acompanhando nos escritos de hoje.