domingo, 24 de maio de 2015

Não pertenço

Eu não pertenço. Eu vim até aqui pra desistir agora. Não pertenço a aqui, nem ao meu corpo. Não pertenço a este tempo. Eu não pertenço a este sofrimento. Nem a estes conceitos.

Não, eu não vim até aqui pra desistir agora. Eu ainda tenho um amor que me deixa viva. É um amor por mim, que me faz temer toda vez em que penso na minha morte. Eu sou idiota o suficiente pra acabar comigo. Mas não fiz isso porque ainda me amo. E tenho a pessoa mais querida e fofa do mundo pra me lembrar disto. Que além de mim, tem mais pessoas que querem o meu bem. Que ele me ama muito e é capaz de passar por grandes provações e ainda assim me amar. Que tenho amigos lindos que me amam e que eu amo também. É pra me lembrar que depois de eu sentir tanta mágoa e abandono, meus antigos amigos ainda lembram de mim. Que gostam de mim, mesmo que o convívio tenha acabado. Isso é muito gratificante.

Sim, eu tenho um irmão maravilhoso que ainda me ama. É meio esquecido e tá sempre na correria (:p) mas tá guardado no meu coração. Que eu tenho pais que me amam muito mas que ainda carregam um certo orgulho e valores que nos afastam. É, eu amo eles e sinto muita falta, mas não posso mais dizer isto pra eles. Espero que um dia a gente possa se reencontrar.

Afinal, está é uma longa jornada até my self. E tem tanta lembrança boa no caminho. Tantos momentos bons. E o apego traz tanta dor. Aos poucos e periodicamente, eu me lembro de que tem horas em que é necessário deixar as coisas pra trás. Maria Gadú canta: "o apego não quer ir embora, diacho, ele tem de querer". Mas sabe, quem tem de deixar o apego ir embora é a gente.

Tantas experiências, conheci tantas pessoas fantásticas. Vivi uma vida que poucas pessoas tem orgulho de poder contar. Eu cheguei lá. Eu vi tudo isso. Eu vivi tudo isso. Não há nada que pague isso. Se me perguntassem se eu gostaria de voltar no tempo, eu certamente diria não. Não me arrependo do que fiz. Queria evitar o que alguns fizeram comigo, mas isso me tornaria menos eu.

Chega uma hora na vida em que se tem de admitir que se errou. Afinal, a natureza humana é a prática do erro. Você pode acertar muitas vezes. Quem você é é o que e porque você errou. Afinal, pode-se errar muitas vezes. Mas você deve saber a hora de não insistir mais no erro. Faça isso. Saiba quando é hora de abandonar velhos conceitos, velhos laços, velhos materiais. E isso não é uma ode ao novo. Afinal, nada disso é novo. Mas se você quer de fato melhorar e encontrar um caminho melhor, não insista nos seus erros e se desfaça das coisas que te prendem a eles.

Sinto que talvez seja a hora de partir. Foi uma experiência fantástica. Uma das mais fortes jornadas de autoconhecimento. Me conhecer é parte importante do processo, sempre foi. Aceitar meus gostos e minhas vontades. Aceitar meus impedimentos e minhas dificuldades. Saber perceber os momentos de falha e melhorar. Buscar ajuda não é vergonha. Ou você existe sozinhe no mundo?

Hoje, eu fui confundida com o meu estereótipo. Sem personalidade, apenas identidade. Eu cansei de identidade. Eu nunca me senti como os outros. Eu nunca fui parte dos outros. Eu conhecia alguns dos meus gostos e fui me juntando às pessoas. E quanto mais conhecia essas pessoas, mais conhecia meus gostos. Cada pedaço de mim foi um caminho percorrido. É eu já corri meio mundo. Um ponto importante é não se negar às oportunidades. Viva e busque vida.

Claro, faça as coisas com destreza e não se permita ficar muito vulnerável. Conheça seus pontos fortes e suas fraquezas. Não deixe um rótulo dizer quem você é. Não deixe a sua identidade negar a sua personalidade. Estude. Realmente se dedique a isso, por mais penoso que seja. E nunca se esqueça: questione. O único limite pra perguntas é o seu raciocínio. Use o seu raciocínio. Não acredite nas coisas porque alguém te disse que era assim. Veja por si mesme. Se jogue nos mares da vida, mesmo quando parecer um precipício. É normalmente profundo o suficiente pra você não se arrebentar. Mas também saiba pular. Não jogue todas as suas forças contra a correnteza. Construa espaços e não tenha medo de entrar e sair dos lugares. Meus pais me ensinaram: Mantenha o respeito e a educação e tu vai poder conversar com o presidente. O mesmo vale para aquela pessoa que te abordar na rua. Se a violência toma conta dos outros, não deixe que ela tome conta de si.

Algumas pessoas podem achar que eu mudei. Mas sabe, tenho amigos de desde meus doze anos(vocês sabem quem são, vocês me conhecem a mais de metade da minha vida) que já me disseram que eu sou a mesma pessoa. O que eu posso concluir é que meus gostos e até mesmo minha identidade não controlam minha personalidade. E todas estas jornadas foram me mostrando quem eu sou. Porque eu continuei a mesma, apesar de diferente.

Gatos podem ter sete vidas, mas podem viver a mesma vida várias vezes? As dificuldades mudam. O mundo muda. Você muda? Você sabe quem é? Você conhece suas emoções intimamente?

Afinal, a dor que se carrega é a mesma delícia de ser quem se é. E eu sou. Eu sou eu mesma. Eu sou um marco neste mundo. MEU mundo. Venho cada vez mais me permitindo sentir e abraçar meu eu. E sentir dor toda hora que meu eu sente dor. E me sentir alegre quando meu eu se sente alegre. Não pense que eu sou diferente do meu eu. A melhor símile é com a santíssima Trindade. O mesmo ente é ao mesmo tempo três. Eu sou eu, meu eu, meu centro e minhas periferias. Cada reação que eu sinto é eu. Eu, em cada pedaço do que faço, mais eu em cada pedaço do que sinto vontade. Eu em cada amigo e eu em cada rancor que se mantém em mim e tento dissipar. É provável que eu seja o eu certo agora, mas na hora e no lugar errados.

É hora de começar a construir outra partida para na hora certa poder zarpar. O próximo porto? Onde estiver meu coração, lá estarei. Saber onde estou eu é pedaço de poder construir um eu com uma pessoa maravilhosa, que possui um eu incrível. Dois corações juntos sentem melhor do que um.

2 comentários:

Léo disse...

Texto completamente introspectivo, sem qualquer concretude. Leitura mega interessante pra quem quer dar uma olhadinha no que se passa na tua cabeça. Sério! Não para de postar, nunca! Um dia tu vais olhar pra trás e ver que todo o conteúdo aqui também te construiu - é uma experiência ótima.
Ainda quero dar uma lida nos relatos contidos na tag transição.
A blogsfera agradece o conteúdo disposto aqui no Campos de Morango, viu? Com certeza vou voltar a visitar.

- Léo ao Léu

Anônimo disse...

Meu coração sente o maior orgulho e felicidade de ser um só coração com um coração tão lindo que nem o teu.
~ Fer