segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Medo de ter medo

Tenho medo de mim
Porque meu passado é uma condenação
Meu futuro é uma negação
Meu presente é uma mentira

Tenho medo de continuar tendo medo
De que não veja meu passado como a dádiva que é
De que não veja meu futuro como a maravilha que será
De não ver o presente com  lentes de compaixão comigo mesma

O medo de ter medo de ter medo
Faz meus passos serem cada vez mais certeiros
Na minha direção

Meu chapéu é meu cabelo
Minhas unhas são as garras
Com que marco minha pegada

Não são cirurgias
Não são minhas roupas
Nem minha voz
Nem as cores de que gosto
Nem com quem eu ando

Não é de quem eu gosto
(E gosto muito e tanto
Que mesmo qualquer discordância
Soa como uma linda dissonância)

Eu sou quem eu digo que sou
Como faço as coisas
E como sinto o mundo

Sinto minha feminilidade passar por mim
Sinto minha docilidade deixando marcas
Sinto minhas palavras lastreando meus sentidos
Sinto-me

E há quanto tempo não me sentia!
Sinto e sinto-me
Sento-me
Ando-me lá
Vejo-me lá

sábado, 14 de dezembro de 2013

Som

Eu queria fazer uma canção pra ti
Só que meu coração só faz bum, bubumbumbum
O silêncio do vento é um violino natural
O meu grunhido é profundo e leve

No escuro de um coração distante
Se enche o pulmão a cantar
Que o verde é vermelho
Que o amarelo é vermelho
E o resto é mar

As ondas como tambores dão um ritmo calmo e acentuado
Tu apareces no fundo dos meus olhos
As goteiras dos meus olhos não se acalmam
No meu sangue preto de tanto correr
Compassos rápidos de quem vai atrás da vida
Fogem e se escondem dentro de mim

O teu brilho se reflete em Vênus e chega até mim
Fazendo tilintar as taças de vidro ao meu redor
Eu prefiro perder esta realidade a me afastar de ti
E assim tua música se acaba em mim

Pro meu amor, nascer e morrer feliz.