quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Campos de Morango

A consciência é o que define a nossa essência humana. É ir além do mundo ao redor ou do outro. É perceber a existência inexorável de ser. Não é possível não ser. Somos consciência, que está atrelada diretamente a um órgão, o cérebro.

Nossa existência está confinada ao nosso corpo. No entanto, a falência de diversos orgãos não caracteriza o fim humano. A falta de movimento nos membros, o descompasso dos rins, a cegueira, o coração descompassado. Tudo isso não impede a tua existência humana. O que impede é a falta de funcionamento do cérebro pra permitir uma consciência apurada.

Um cérebro que não esteja funcional impede a normalidade de nossa essência. Depressão, esquizofrenia, mania, ansiedade são doenças que produzem um sofrimento contínuo e de baixíssima intervenção.

A nossa existência efêmera sempre teve sentença de morte. Qual a diferença entre escolher a hora de morrer e morrer sem escolher? Nenhuma. Não existe nada depois da morte. Se todos estamos mortos, porque continuar esta batalha para continuar vivos?

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Vem, vamos embora

"Vem, vambora
Entre por esta porta agora
E diga que me adora
Você tem meia-hora
Pra mudar a minha vida"

Eu sinto a tua falta
A tua falta em mim
O teu carinho
O teu calor

Eu sinto a tua falta
A falta de tu entrar pela porta dos meus olhos
E dizer:
VAMOS EMBORA

A tua atitude, o teu carisma
O teu jeito de me cativar
De me escolher

É clichê
Mas eu sinto teu cheiro no travesseiro
E me abraço nele

Tu tinha um jeito especial de me fazer sentir viva
E eu te escolhi por isso
Eu quero te ver de novo
Eu quero aquela mágica me enebriando

Vamos recomeçar?
Não quero perder meu tempo
Muito menos o teu
Eu quero sair
Não quero mais ficar aqui

Ficar em mim é insuportável
Eu preciso da tua atenção

O pranto me deixa a cara formingando
Essa sensação horrível
De o coração sair pela boca
E a cabeça fica zunindo
As mãos batem com força no peito
Eu não me sinto em mim

A sensação de não estar aqui é muito forte
A respiração ofegante é a única coisa que me prende
No aqui e no agora
Eu me sinto
Falta me sentir viva

Fim.

Viva Adriana Calcanhoto.

domingo, 4 de setembro de 2016

Buffet livre

É um pedaço em fogo
É politica que arde
É grito e sufoco
É pouco

Nada vai acontecer
Nada
Talvez mudem as estações
O salário continua sumindo
O escravo sofrendo

Vários mundos em um só
Vem se desfazendo
Até virar pó

Impedimento é um prato que se come frio
E essa terra esfriou há bastante tempo

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Não me deixe só

Não me deixe apenas comigo mesma
Eu sou minha pior inimiga
Me dá frio na barriga
Ficar só à mesa

Eu caminho sozinha no escuro
Não é possível ver nada
Só sinto a mim, no vácuo
Vazia e com a respiração ofegante

Penso que me movo
Mas estou no mesmo lugar
Perdida, cansada
Me canso de vagar

Meu pedido é simples
Não me deixe só
Eu sou um pesadelo
Você me leva pra um lugar melhor

Não nos deixe só
O mundo será sempre pior
Sem a tua voz
Teu odor
Teu carinho
Nosso amor

A solidão existe
Na morte, no espaço
Na minha cabeça e no meu abraço
A solidão
E só

terça-feira, 3 de maio de 2016

Sem espaço

Um mundo pequeno, infinitamente pequeno, tomou conta de mim. Um ponto no espaço revela exatamente que eu não tenho espaço. O ponto se repete, se ilumina e se apaga todas as vezes que algum dos seres nascem e morrem. O ponto não é. E não somos nós, mais do que um ponto. Um ponto em movimento no espaço imenso, nos despedaçando em uma quantidade ínfima de tempo.

Sentir é uma ilusão. Nada pode completar algo tão pequeno. Nada pode ser onde nada pode estar. Hoje, um ponto, uma luz. Amanhã, sem ponto, sem luz.

E na imensidão do espaço-tempo, os pontos se unem e se separam numa dança de um tempo inobservável. Tantos pontos quanto se possa imaginar. A consciência acessa o ponto, o ponto deixa de ser objetivo e passa a ser subjetivo. No entanto, um ponto observado, é uma realidade dentre as muitas que ele pode ou não ser.

O ponto se esvai no caos da cidade, na babel da internet. O ponto que eu sou, o ponto sou eu. O ponto, na ponta. O ponto apontando. O ponto sem eu. O não-ponto.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Tecnologia

Pedras, lascas, varetas de fogo
As pessoas polidas sempre assassinas
Plantações, currais, aquedutos
Ferro, bronze e guerras bonitas

Sanguinários, os olhos vermelhos enchem os campos
De batalha, se fundem os corações e os leões
Da morte, vivem os moribundos e os anjos
Do forte, choram os pobres e os vilões

Os tiros, as bombas, o calor dos infernos
A fome, de perto, os urubus, de longe
Despedaçam minha consciência a cada clique

Para o sofrimento dos outros
Na guerra é a gente que cria,
Por necessidade, a tecnologia